DEVOÇÃO
À vezes alguma palavra fica martelando
na minha cabeça. Vem-me toda hora à mente, futrica minha imaginação. Por que
acontece? Não sei, deve ser uma questão de neurotransmissores, ou não.
Tais impulsos,
seguidamente, me remetem ao dicionário,
em busca de significados. Gosto dos significados, que são aquilo que alguma coisa quer dizer, o sentido.
Hoje acordei me
lembrando de ‘devoção’. E ela tomou conta do meu dia. Segundo os entendidos, devoção é ‘piedade ou sentimento religioso; expressão
de adoração a Deus e aos santos através de práticas religiosas: tinha devoção
por Santa Rita de Cássia’. Mas também significa afeição; dedicação, amor ou
afeto demonstrado em relação a alguma coisa, ou alguém, como por exemplo: a sua
devoção ao teatro era sincera. Ou quando se adora ou venera: sua esposa era sua
verdadeira adoração.
O mundo
moderno, tão pusilânime nas coisas de Deus, não entende mais o significado da
palavra devoção. Hoje, na maioria dos
casos, as práticas devocionais não passam de sentimentalismo subjetivista que nos
mantém aprisionados ao passado. Tudo precisa ser processado, ruminado,
oferecido sem que seja preciso sacrifício ou esforço. Sim, porque a devoção
reivindica estes dois substantivos. Para conversar com Deus, criar mais
intimidade com ele e se aprofundar na fé através da palavra ou da oração, é
preciso dedicação. Como diz uma música do Gil: se eu quiser falar com Deus, tenho que aceitar a dor, tenho que comer o
pão que o diabo amassou, tenho que virar um cão, tenho que lamber o chão...
Abnegação é
tarefa difícil. E, da mesma forma que a devoção a Deus exige empenho e zelo, também
é preciso devotamento e cuidado nos relacionamentos interpessoais, para que
vinguem e se mantenham.
Quem tem
devoção pratica o afeto e o amor. E praticar o afeto e amor, com renúncia e
desambição, não é empreitada fácil. É predicado só dos espíritos altruísticos.
“Um
compromisso submisso, rebuliço no cortiço, chame o Padre "Ciço" para
me benzer, oh, com devoção.”