sábado, 26 de novembro de 2016

NO ANO QUE VEM



No ano que vem eu vou, terei, farei, haverá. Quando eu conseguir, tiver, fizer. Quando eu me aposentar...
Esta é a frase mais pronunciada nesta época. Tudo o que não iniciamos, continuamos ou terminamos no presente, transferimos para um tempo posterior ao que se fala. Falamos como se o ano que vem fizesse parte de um futuro longínquo e mágico. Tão distante que haverá tempo para realizar projetos e sonhos deixados pelo caminho, em meio a horas desperdiçadas. Hoje é o futuro de ontem e passado de amanhã. Então o futuro é tempo que já era ou nunca será. Quem saberá? O que temos certeza é que hoje é o nosso melhor presente. É este momento que estou escrevendo, está calor e o céu escuro parece trazer chuva. Agora são dezenove horas e vinte oito minutos e acaba de cair a conexão da minha internet. Meu vizinho está chegando do trabalho, ouço o barulho da chave na fechadura da sua porta. Estou com sede. Enquanto pego a água espio meu gato deitado no sofá da sala, de olho numa lagartixa na parede, próxima da janela. Coisa graciosa a figura de um bichano circulando pela casa, roçando-se nas nossas pernas, com miados próprios pra cada situação que só nós, seus donos, compreendemos. Volto a escrever e a chuva começa cair.
Agora é o momento que tu estás lendo este texto. Já pensou que se deixasse para outro dia, talvez nunca mais lesse?
 Muito pior do que conjugar os verbos no futuro do presente é pronunciá-los no futuro do pretérito ou do passado: eu deveria, queria, poderia; se eu tivesse, se eu pudesse... Existem pessoas que passam a vida planejando o futuro para o ano que vem. E morrem querendo ter feito, ter ido, ter tido e ainda culpando os outros por tudo o que deixaram de executar, justificando fracassos, erros, acomodação.
O “ano que vem” é daqui alguns dias. Como saber se estaremos aqui? Depois do jantar vou escrever a primeira página do livro que estou planejando começar desde o ano passado.




sexta-feira, 11 de novembro de 2016

TEMPOS DE PRIMAVERA

Da minha janela do quinto andar, observo o espetáculo da reprodução das aves e plantas. Ainda ontem estava tudo tão cinza. Folhas caídas, galhos secos, pássaros encolhidos. Chuva e neve, água e ventania. De repente tudo se refaz como se fosse um milagre – e é!  A brotação aparece de uma hora para outra.  A passarada corta o ar em reboliço. Voam de cá pra lá, fazem ninhos nos lugares mais imprevisíveis. É preciso reproduzir! Os ventos fazem sua parte, sopram, assobiam, transportam. Uma pressa de vida se derrama no ar.
A palavra ‘primavera’ tem origem do latim ‘primo vere’, que significa ‘começo do verão’.  Muitas primaveras se passaram desde que emplaquei por aqui – casualmente no mês de setembro. Algumas foram de cantos e muitas flores, outras nem tanto. Acho que é assim para todo mundo. Primavera, verão, outono, inverno... O importante é que toda estação vai e volta. Entre uma temporada e outra os amores e dissabores nascem, morrem, reciclam-se. Além de ser a estação onde a natureza floresce ao nosso redor, a primavera também é o período em que nossas almas ficam mais coloridas, cheias de ânimo e novas energias. 
O escritor Jeocaz Lee-Meddi, brasileiro nascido em Goiás, que escreve sobre o nosso tempo e sobre o passado histórico, tem um pensamento que diz assim: “Não prometas nada que vá além da próxima primavera. Nenhuma fidelidade resiste à insatisfação humana, se assim o fosse, Adão estaria até hoje no Éden, fiel às promessas de Deus”.  Desde que li isto, programo minha vida entre uma primavera e outra. O que durar mais, é lucro!  Parece-me que a natureza toda se projeta desta mesma forma, no interstício das estações.
Também voltei a ouvir o sabiá nas madrugadas, entoando suas notas em vários volumes, escalas e variações, na copa do Flamboyant. Dizem que um sabiá não canta igual ao outro. Eu acho que é verdade. Cada sabiá tem sempre uma variaçãozinha, uma notinha diferente, um novo piado que avisa: - desse jeito só eu canto!  
Só não tenho como saber se é o mesmo sabiá da primavera passada.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

AGENDA PRA VIVER BEM

A semana começa com limitações no café da manhã. A recomendação é uma fruta, uma fatia de pão integral torrado com manteiga light, uma fatia de queijo branco, uma xícara de leite de soja. Depois ao menos uma hora de exercícios físicos, não pode faltar meia hora de caminhada. Tem que ter o lanche da manhã, porque se recomenda seis refeições leves por dia. Pode ser uma barra de cereal light, ou uma ameixa fresca, ou três castanhas do Pará. O almoço deve ser leve. Duas colheres de arroz integral, um prato de sobremesa de salada de rúcula, um filé de frango com gengibre, uma taça de abacaxi com raspas de limão. Repousar após o almoço recarrega as energias e nos torna mais prolíferos. Então faça isso.  Ah e não se esqueça da xícara do chá verde, do suco detox, de comer maçãs, cereais... Para a janta, sempre antes das 20h, um prato fundo  de sopa de grão-de-bico com inhame e espinafre é a melhor escolha. Tempere tudo com azeite de oliva extra virgem, de preferência os com acidez inferior a 0,5%, que por sinal são mais caros.
Banhos frios fazem muito bem à saúde, pois ativam a circulação e melhoram a pele. Carne de peixe ao menos uma vez na semana não pode faltar na sua mesa.  Não podemos esquecer de fazer checapes periódicos na ginecologista, dermatologista, cardiologista, otorrino, gastro... Para as mulheres que já passaram dos cinquenta, tem a fase da reposição hormonal. Tomar hormônios, vitamina D, cálcio, e ao menos vinte minutos de sol por dia. Quando se tem outros problemas de saúde, não se esquecer dos horários dos medicamentos, que podem ser para a pele, para o sangue, para os ossos, para o colesterol, pressão, diabetes, estômago, coração, para os nervos, pra pampa que o pariu.
É fundamental passear e conversar com as amigas. Dançar faz bem à alma, revigora nossas energias. Ir ao cinema, teatro, shopping, viajar, namorar. Portanto, ponham na agenda estas atividades ao menos uma vez por semana. Contato com a natureza, ter tempo todo dia para a família e amigos, meditar, fazer um trabalho de caridade, espiritualizar-se, dormir, ouvir música, se possível aprender a tocar um instrumento musical. Visitar velhos conhecidos, escrever e ler, nem que seja a coluna de esportes do jornal. Ter um animal de estimação, sem esquecer que isso envolve idas e gastos com veterinário, vacinas, ração, pet shop, e tempo pra passear ao menos duas vezes por dia, principalmente se o bichinho for um cão. Beber dois litros de água por dia é condição ‘sine qua non’. Nada de muito sal na comida e, por favor, corte os carboidratos. Fazer sexo com certa frequência diminui os riscos de infarto fatal.
E se você ainda não se aposentou, tem que ter o tempo para trabalhar. E para estar com boa disposição e produtivo, é importante dormir ao menos oito horas por noite. Existem muito mais itens que não cabem em apenas uma crônica, mas talvez caibam na sua rotina. Se você consegue administrar tudo isso na sua agenda de 24 horas, considere-se uma pessoa excepcional, atípica, abnormal. Boa sorte!