AOS CINQUENTA
Passou
setembro e junto com a primavera eu fechei meio século. Logo não me dei conta,
mas o ano acabou, veio o Natal, Réveillon, férias, carnaval. Passei estas datas
num misto de achaque com apatia, se é que alguém consegue entender. Meu pensamento
desarranjado e descentrado. Uma espécie de mal, um sangramento interior.
Recorri aos fármacos, à terapia, à religião, entre outras alternativas, porém aquela ponta de adaga
cutucando no meu nervo mais sensível insistia, sem pesar, em me fazer sofrer.
Numa
das minhas caminhadas matutinas, mais por dever que por prazer, deitei na grama
verde, como fazia na minha infância. Veio-me na memória a lembrança, tão
distante, da beleza daqueles momentos.
Essa reflexão me avivou para a realidade que me incomodava: os cinquenta
anos! Trata-se de meio século. Não é uma
idade qualquer. Não se pode voltar atrás pra refazer absolutamente nada, nem as
coisas erradas e nem repetir as boas, porque o tempo é outro. Parar, nem
pensar! Sou jovem pra isso. Mas também não me sinto nova suficiente para
investir em grandes projetos. Talvez a solução seja avançar aos poucos,
devagar, sem pressa. Desacelerar, não correr tanto e apreciar mais a beira do
caminho. Com a maturidade, as dores e dissabores tornam-se menos difíceis de
elaborar. Fazer projetos, porém mais curtos e com expectativas menores e mais
racionais.
É
um tempo árduo esta meia-idade. Literalmente, o meio de um caminho, sem faixa
de retorno. A única opção é seguir adiante, independente das dúvidas e
inseguranças que apareçam, é a única via pra seguir até o fim da vereda. O que
me consola é ter tido um filho, escrito um livro e plantado até mais que uma
árvore, além de muitas flores. Nesta exata e prioritária ordem. Minha única
certeza é que continuarei plantando flores e replantando as que não vingarem. E
é só.