sexta-feira, 27 de julho de 2018


BARULHOS

Os sons da rua são muitos: do motor e buzina dos carros e motocicletas, cães latindo, gatos miando, pedreiros trabalhando nas obras, a máquina de lavar roupas, o casal que mora na quitinete aos fundos e discute a relação todos os dias, parece difícil o consenso. Ainda tem o autofalante do caminhão que vende frutas, do outro que vende produtos de limpeza e aquele do gás.
A palavra ruído, que é sinônimo de barulho, vem do latim rugitus (=rugido), que significa qualquer som indistinto, rumor, barulho, estrondo, estrépito. É tudo aquilo que dificulta a comunicação e perturba a recepção ou compreensão da mensagem. Traduz uma interferência dolorosa entre o mundo e o eu, uma distorção da comunicação em razão da qual as significações se perdem e são substituídas por uma informação parasita que provoca desagrado ou aborrecimento. Assim sendo, na teoria da comunicação ruído pode ser o barulho que impede o destinatário de ouvir o que se fala pelo telefone, mas pode ser também o uso de palavras pouco usuais ou desconhecidas. E no meio desta barulhada toda, ainda tem o som da TV do vizinho de cima, do rádio do vizinho de baixo, da geladeira ligada na cozinha, do liquidificador, da batedeira, das torneiras da pia, da descarga do banheiro, de passos na calçada...
Quando se mora longe dos centros urbanos, estes ruídos diminuem. Lá no meio do mato de onde eu vim, o silêncio era tanto que me angustiava, sentia muita falta de algum movimento. Assim como hoje, muitas pessoas até se sentem mal em um ambiente muito silencioso, dizendo que o silêncio assusta, eu pude vivenciar esta experiência no início dos meus anos. Naquele tempo os ruídos locais eram os pássaros cantando, a água correndo na fonte, a chuva caindo, o vento soprando e balançando as árvores. Os ruídos humanos eram muito escassos. Ouvia-se o ruído de motor de carro muito poucas vezes e ainda assim a uma longa distância.
Hoje luto contra os barulhos que me rodeiam, atrapalhando minha concentração, ceifando meu sono e dispersando meus pensamentos. Somam-se ao escarcéu, os sons perturbadores do nosso interior, oriundos das preocupações da vida adulta, das incertezas, indecisões, questionamentos... Ah, esse barulho atormenta demais! Rouba-nos a paz e a quietude. Põe nossos nervos à prova. Aperta o coração e espreme a cabeça.
E assim segue a vida da gente. Neste driblo constante dos ecos da modernidade, passamos os dias e as noites levando goleadas.
Nunca mais experimentei o silêncio pleno que tive na minha infância. Embora tente exercitar-me na busca da quietude, confesso que é tarefa difícil. O ‘som nosso de cada dia’ impede o apaziguamento e a interioridade. Meu propósito é não desistir dessa busca e ainda almejo reencontrar ‘o silêncio que assusta’!