SOB PROTESTO
Num
dia desses, amanheci com cinquenta anos. A partir daí minha vida nunca mais foi
a mesma. Tudo foi acontecendo de forma gradual, a pele menos vistosa, exibindo
marcas do tempo; a testa branqueou de forma meteórica e o afinamento da fibra capilar
causado pela diminuição da elastina e do colágeno é a prova cabal que os
cabelos também envelheceram, um tanto pela genética, outro pelas tribulações
passadas vida afora. Os músculos perderam boa parte da tenacidade e se não os
exercitar depauperam de vez. As rugas no rosto e colo são o irrefutável indício
da eminente derrocada. Junto da falência ovariana os fogachos se instalaram sem
trégua e a sudorese noturna, unida com a insônia, abraçaram-se em mim com asas
de morcego.
Depois
desse impacto, a passagem dos anos parece que transcorre muito mais rápida que
antes e a evidência da finitude torna-se deliberante. Busquei socorro na terapia, medicamentos, chás,
hobbies... todas alternativas válidas, mas não existe cura para a velhice. Mesmo
mantendo a alimentação manejada, ganhei quilos que nunca foram meus, e não sei
para quem devolver. Logo eu, que sempre tive um apetite apurado e um
metabolismo veloz, agora até cheirar a comida me engorda. A cintura sumiu e os
clássicos ‘pneus’ instalaram-se com escritura de posse definitiva, sem direito
à contestação. Não, não tenho dinheiro e nem coragem para impetrar recurso de
procedimentos estético-cirúrgicos. Esta é a veracidade dos fatos!
Por
outro lado, há vantagens em envelhecer, afinal é a continuidade da vida, com
mais experiência e tolerância. Atualmente, com avanços na ciência, novas tecnologias
e programas voltados ao público longevo criaram-se boas expectativas.
Atividades socioinclusivas de lazer, desportos e voluntariado, e outros tantos programas
voltados para a terceira idade, faz a turma idosa ser mais feliz e saudável. Mas
não posso concordar com as assertivas hipócritas como ‘a melhor idade’, ‘a beleza
da velhice’. Essa experiência vital até
pode ter um conceito interessante, talvez bela. De resto onde encontrar beleza na
velhice? Na incontinência urinária? Na hiperplasia prostática? Na míngua
capilar? Nas manchas escuras nas mãos e nas irrupções cutâneas? No meu entendimento
pessimista, lógico, esses termos além de hipócritas são paliativos para nos
enganar e não morrer de tédio. A única vantagem de envelhecer é que não
morremos cedo, mas de resto é só ladeira abaixo, sem volta.
E
mais, o que fazer com a experiência e sabedoria adquirida vida afora? Passar
para os filhos e netos? Eles só vão valorizar quando e se experimentarem a
própria velhice! Isso sem falar que a memória pode nos trair e nem lembramos
das vivências experimentadas.
Quero
me dar o direito de contraditar a velhice e todas as alegações paliativas e
politicamente corretas que os modernos encontraram para suavizar sua implacável
verdade. Como diz a Zaira, uma amiga
querida, “ENVELHEÇO SOB PROTESTO”.