SURPRESA DE ANIVERSÁRIO
Naquela manhã de setembro acordei de humor nada bom. Era meu aniversário de cinquenta e sete anos. Estava envelhecendo e o tempo escorrendo como azeite pelas minhas mãos. No meio de uma pandemia, com uma protrusão me incomodando a lombar, fazendo fisioterapia, tendo que tomar hormônios, cálcio, colágeno, vitamina D e outro escambau de remédios, não consegui encontrar muitas razões para estar lépida e faceira. Minha sobrinha havia dito que faria o almoço, já me senti melhor em poder ficar longe da cozinha. Voltei da fisioterapia e fui pegar meu marido no trabalho. Ele perguntou como estava o dia do meu aniversário. Eu respondi com outra pergunta: e o meu presente? Ele: tu já recebeste muitos presentes. Eu: é por isso que os casamentos acabam e depois não se sabe o porquê.
Entramos em casa e minha sobrinha já estava com uma moqueca de tilápia prontinha, exalando um cheiro gostoso na minha cozinha. Amei ela naquele momento e odiei meu marido porque ele é quem deveria estar na cozinha no dia do meu aniversário. Mas isso era exigir demais dele que não tem aptidões culinárias. Sempre tive inveja de mulheres cujos maridos são verdadeiros ‘mestre cuca’. Porém nada é perfeito e ele tem muitas outras habilidades e qualidades.
Eu tinha feito um bolinho de milho e convidado apenas a Vivi, minha amiga e vizinha para tomar um cafezinho comigo depois das 14h. Meu marido almoçou e saiu logo, apressado, minha sobrinha também parecia preocupada e enquanto eu lavava a louça do almoço ela começou a arrumar a mesa para o café. Pegou as melhores louças e colocou quatro jogos na mesa. Não entendi, porque era só eu, ela e Vivi. Ela disse: o Ale (marido) também vai vir. Estranhei porque ele nunca vinha tomar café quando eu estava com alguma amiga em casa.
Nisso toca a campainha, minha amiga tinha chegado. Ela me abraçou e me deu um conjunto de sombra para os olhos, bem como eu precisava. Nisso minha sobrinha entra em casa com uma Pavlova linda (é um bolo feito só com claras de ovos e cobertos com frutas vermelhas – delícia). E nesse mesmo instante meu marido chega com um pacote enorme nas mãos e um buquê de flores. Só então me dei conta que estava tendo uma surpresa de aniversário. Ganhei dele um teclado, que ele me prometera há tempos, mas eu já nem contava mais com isso.
Sentamos todos na mesa e saboreamos o bolo com café e bela prosa. Assim, o dia dos meus cinquenta e sete anos foi muito mais prazeroso do que eu pensava. Acabei o dia bem feliz, com pessoas que amo, só faltou meu filho, amor maior que mora longe.
Por isso a gente sempre deve ser otimista com a vida e com as pessoas, porque elas podem nos surpreender súbita e docemente, transformando nossos dias para melhor. Obrigada pelo carinho, meus amores!