DESACOMODAÇÃO
Um pensamento e
sentimento obstinado tem maleado meu ser: a ausência de algo que existia em mim
e que não encontro mais. Uma sensação de pesar constante que me sufoca e
atordoa, me desorienta, desconcentra, faz mal. Faço terapias, academias, tomo
pílulas e homeopatias... Mas a dor não sai! Faz uns cinco anos que ‘o
monstrinho’ voltou aos poucos. Primeiro uma angustiazinha e depressão leve,
depois uma frustração maior, daí vieram questões econômicas, familiares, os
anos passando, as inquietações se avolumando e nos cinquenta e poucos o pavor
se instalou. Hoje me sinto bloqueada, com a paz interior sitiada correndo
perigo. Sinto-me no limiar da loucura - (Ainda bem que a loucura é apenas uma
construção social – senão eu estaria ferrada!).
Tenho dúvidas:
de quem sou, do que eu quero, para onde vou? A maturidade que me brindou com a
experiência e certo conhecimento trouxe à soga esta desacomodação interior.
Ainda não me agrada a ideia dos anos terem passado tão depressa, da juventude
ter-se escorrido vida afora e agora, mostra-se irônica nas fotos espalhadas nos
álbuns, caixas e porta-retratos. Daí você se vê e conclui que ‘era tão bonita’,
pena que não sabia!
Não gosto de
escrever sobre estes pesares que me ocorrem e amolam, mas é uma forma de imprimir
no papel toda a angústia que consome minha alegria e prazer. Se você não sente
nada disso, ou melhora ouvindo uma música, cantando, dançando, correndo,
viajando... Que bom, continue assim! Para mim, sempre foi mais difícil lidar
com estes descontentamentos da vida. Sempre o que é simples para algumas
mulheres, é bem complexo para mim. Eu sou assim, costurada de emoções, vibrando
e transitando insanamente entre dois polos, buscando sempre um cômodo que
melhor acolha minhas inconstâncias; um colo para prantear carências; um mar
para desaguar meus vários rios.
Agora que
desafoguei no papel, ou melhor, na tela, se fosse papel estaria molhado e
rasurado, sinto uma ponta de alívio brotar no solo inçado da minha alma que
luta, luta, e luta, mas não se acalma.