VÉSPERA DE FERIADO
A tarde está acabando e o movimento
no trânsito aumenta na mesma medida que os escritórios, lojas e casas se
esvaziam. Saí do trabalho mais cedo, como noventa e nove por cento das pessoas,
agitadas pela ânsia do feriadão. Todos correm com seus automóveis para pegar a
estrada rumo ao litoral, interior, ou a lugar algum. Esta cinesia me causa
efeito contrário. Chego em casa, dou ração para o meu gato, coloco tênis e
roupa adequada para correr.
Caiu uma boa pancada de chuva e
depois o sol arrematou o dia com suas nuanças alaranjadas. Os pássaros chegam
em revoada para aproveitar as árvores desocupadas. As flores cheias de
preguiça, caem do alto das copas, formando um tapete colorido na relva úmida.
As formigas também folgaram, exceto algumas obstinadas pelo trabalho, solitárias,
com suas cargas pesadas e supérfluas, caminhando atrapalhadas rumo às suas
furnas.
O arvoredo agradece aos céus pela
água derramada. Silenciosas, as árvores com seus troncos antigos e galhos longilíneos,
gozam o mormaço de fim de tarde com o mesmo sossego dos espíritos brandos.
Com a cidade vazia, a natureza se
excede. É prazeroso contemplar esses momentos que poucos veem.
Eu sigo no meu trote, observando tudo
e pensando em nada, suando minhas angústias, exalando réstias de felicidade.
Sigo sempre, em frente, enquanto o ar morno me tapeia as faces..., mas não
tenho certeza se depois do feriado serei feliz de novo.