sexta-feira, 26 de julho de 2013


PENSAR DÓI



Hoje deixaria esta página em branco. Ideias dispersas, escassas. Mente inquieta. Terei que pensar para escrever.

Pensar dói. Texto doído sai sofrido, sem a graça da inspiração.

Matemática é cálculo, concentração, solução. Dói para o menino da escola a divisibilidade, potenciação, radiciação, a geometria. Dói tanto que ele erra até os mínimos cálculos de adição. A dor rouba sua atenção. Dói em mim a dificuldade dele. Mas esta dor não é minha.

A minha dor é com as palavras que me faltam; os verbos que não conjugam; os versos que não rimam.

Dor de escritor.

domingo, 2 de junho de 2013


Estável tarde de domingo.
Céu fechado, sol amuado,
Abdicando de aparecer.
Na ampla sala do meu lar
Apenas o rumor do ar quente.
Deitada no sofá esfolado,
Minha gata balofa e surda,
Sempre se dando a Morfeu.
Ai, que inveja desta cena!
Quem me dera um sono assim!
Eu, sempre cabal inquietude,
Procuro sossego e...
Silencio em mim.


terça-feira, 23 de abril de 2013


 
REENCONTRO     


Estou aqui a rabiscar sobre as linhas vazias de um resto de caderno, empacada num poema que insiste em não nascer. Mais uma vez um parto difícil. O pior é que o sinto latente, espremendo meu ventre, querendo rasgar-me a carne, sangrando-me de dores. Mas, nada! Apenas algumas palavras perdidas, sem nexo nem sucesso. O que será que me travou assim?
Terá sido este longo e friento inverno? O tempo sobrando que eu nunca acho? As panelas, os gatos, as roupas, os pratos...?
          Parece que me perdi nesta vida doméstica que não se recicla e já nem sei embaixo de qual tapete ou sobre qual armário me deixei acomodar.
No ímpeto de ressurgir-me, saio a caminhar até a Redenção: passo pelo laguinho e chego às bancas da feira. Sinto o cheiro das flores de pêssego, do melado na pipoca, do incenso e outros tantos. Meu instinto já desperta, conspirando ao meu favor.
E, no café do Maomé, reencontro meu sabor.