quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014


Muito tempo sem escrever.
Me sufoca a nostalgia.
Roubei esta letra do Martinho,
pra dizer o que eu queria!

Ex Amor
Martinho da Vila

Ex-amor,
Gostaria que tu soubesses
O quanto que eu sofri
Ao ter que me afastar de ti.
Não chorei!
Como um louco eu até sorri,
Mas no fundo só eu sei
Das angústias que senti.

Sempre sonhamos
Com o mais eterno amor.
Infelizmente,
Eu lamento, mas não deu...
Nos desgastamos
Transformando tudo em dor,
Mas mesmo assim
Eu acredito que valeu.
Quando a saudade bate forte
É envolvente.
Eu me possuo
E é na sua intenção,
Com a minha cuca
Naqueles momentos quentes
Em que se acelerava o meu coração.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013


TUAS MÃOS

Tuas mãos lavam pratos,
torcem panos, limpam o chão.
Estendem e passam roupas;
escovam chinelos, sandálias, sapatos; 
arrumam canos, tiram o pó. 
Mexem panelas, temperam comidas,
batem bolo, amassam pão.
Preparam almoço e jantar.

Cavam a terra, regam plantas!
Cansadas, abrem livros, viram páginas.
Tentam se distrair...
Tocam o corpo no banho,
em exame de rotina.
Diante do espelho,
ajeitam o cabelo, passam batom.
Pousam na testa do filho,
tirando a febre.

Excitam o parceiro que pede afago.
Sem joias e adereços,
bem alto, sobre a cabeça,
seguram as velas na procissão.
Juntam-se e elevam em oração.
Tuas mãos humildes e humanas,
macias ou calejadas,
são a tua salvação. 


sábado, 31 de agosto de 2013


MINHA URGÊNCIA


Nasci e vivi minha infância numa casa construída no pé de uma montanha. Tinha mato por todos os lados, um precipício abaixo e muitas montanhas à frente. Assim, a vista sempre acabava num obstáculo.
A mais veemente lembrança que tenho de ‘uma vista longa’ é a das chuvas de verão. O tempo se armava, o céu escurecia, algumas trovoadas e relâmpagos. Eu sentava na ponta da calçada, deixava as pernas balançando no ar, estendia os olhos sobre as montanhas que logo começavam a branquear. Parecia uma cortina de voal descendo sobre a terra. Primeiro cobriam-se as cordilheiras mais distantes, depois o precipício abaixo e em poucos minutos a chuva já molhava o verde dos potreiros e chegava nos meus pés. Às vezes eu me deixava molhar, mas logo ficava com frio e corria para a varanda da casa. 
Em todos os outros lugares que habitei depois, a vista era curta. Tinha sempre casas nos lados, ou à frente, atrás, ou mais que isso: arranha-céus, postes de cimento, rede elétrica, barulho de cidade e muita gente. E este ‘reboliço’ me acompanha vida afora.
Hoje, num destes instantes que Clarisse Estés denomina ‘volta ao lar’ das mulheres, me deparo com uma necessidade latejante: preciso muito ter uma paisagem larga e longa na minha janela ou varanda, escorrendo sob meus olhos. Poderá ser uma várzea com plantações e estradas, um lago, mata, rio, parque... Mas de preferência o mar! Não importa o que seja, desde que seja o que me baste. Não quero mais obstáculos à minha visão. Quero dormir e acordar com esse ‘calmante natural’. Quero ver longe para sempre. É isto que desejo, este é meu ânimo, minha busca, minha paz. Com urgência, silêncio e sem interrupções.