Os dias têm sido tão iguais. Ao mesmo
tempo tão cheios de pequenas coisas e pessoas miúdas, fuinhas, mesquinhas... picuinhas.
Há tantas formas entusiastas de se viver. E ficamos igual ao cão alucinado
atrás do rabo. Pega daqui, pega de lá, faz isso, faz aquilo. Ao final, escabelados,
nada se concretiza, exceto as lidas banais, invisíveis para os olhos orgulhosos
e egoístas dos narcisísticos que nos rodeiam. Dá uma vontade de fugir de casa. Zarpar para qualquer lugar, onde se possa ler e escrever sem barulho, sem o
compromisso do almoço, da casa limpa, da roupa lavada. Evadir-se vida afora,
sem dependentes e carentes que nos alcancem. Perder-se da vista.
Sinto urgência em tomar uma atitude
severa com esta salmodia. Saudade e falta de extravagâncias; de caprichar com
minhas singularidades. Esquivar-me destes enquadramentos sociais, morais, que
não são legais e ainda engordam. Esvaziar esta arca de bugigangas que, definitivamente,
não me pertence: quimeras, expectações, porvir que nunca vem. Planos,
estratégias infinitas, esperas com resultados esmorecidos, abortados. Tanto
empenho, tanta luta, tanto amor, para efeitos inoperantes, frustrantes.
Estar de saco cheio é meu direito, é
consideração comigo mesma.
E para não ouvir dizer que é tudo
culpa minha, escapo pelada, sem levar nem deixar nada. Só restará a saudade de
mim.