VÉSPERA
A palavra que amanheceu na minha
cabeça hoje é véspera. Do latim
‘vespera,ae’, à tarde, ao cerrar da noite. É o dia que imediatamente antecede
aquele de que se trata. A véspera do feriado, do Natal, do Ano Novo, do
casamento, do aniversário...
O dia da véspera sempre se sabe,
menos a véspera da nossa morte. Este dia que embora seja certo, não conhecemos,
tem véspera indeterminada.
Como sempre fui muito ansiosa, toda
véspera de uma data importante, causava-me aflições, palpitações, até enjoos
conforme a ocasião, independente do evento do dia seguinte ser bom, ruim, ou
imprevisível. O tempo e a maturidade me fez ter controle maior sobre as
emoções. Já não tenho palpitações, nem enjoos, embora ainda perca o sono.
Véspera para mim não é palavra nem instante muito agradável. Metaforicamente
podemos dizer que quem se antecipa muito a ponto de ficar ansioso ou nervoso
está sofrendo antes da hora – daí surge a frase “o peru é quem sofre de
véspera” – pois bem, eu sou como o peru.
Assim, bom mesmo no meu entender é o
dia do fato, vésperas não. Gosto é da véspera de nada, só esta me deixa
em grande sossego, me traz tranquilidade. Vésperas de viagem abomino, esconjuro.
È uma gama de correrias, miudezas para ajeitar, atenção redobrada a
esquecimentos, listinhas, ânsias... Bom
mesmo é a véspera de não partir nunca, como diz Álvaro Campos – heterônimo de
Fernando Pessoa, num poema: “Na véspera de não partir nunca, ao menos não há que arrumar malas, nem fazer planos em
papel... Não há que fazer nada na véspera de não partir nunca...”.
Augusto dos Anjos, também deveria ter
mau palpite quanto às vésperas, fato é que escreve em seu poema ‘Versos Íntimos’: “Toma
um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro”. Disse
tudo.