quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

 

CHUVA DE VERÃO

Os dias de janeiro foram quentes, densos. Não é por nada que nossa capital tem o apelido de ‘Forno Alegre’. Eu, particularmente, sofro muito com o calor, agora mais ainda do que quando era mais jovem. Fevereiro entrou trazendo bastante chuva, o que torna a temperatura mais agradável.

Olho pela vidraça e acompanho o ruído da chuva no telhado da varanda, ‘chuá, chuá’. Isso me traz lembranças da infância. Naquela época eu morava no interior. Nossa casa era grande, cheia de vidraças. Lembro dos temporais de verão, quando caía tanto granizo que muitas vezes estilhaçavam as vidraças. Mas era justamente nos dias de chuva que eu me recolhia para ler, gostava das revistas de fotonovelas, e dos livros da coleção ‘Seleções’. Devorava tudo com avidez, e quando minha irmã mais velha, que já morava na cidade, demorava para trazer novas edições, eu acabava repetindo as leituras.

Também eram nesses dias quentes e chuvosos, que todos lá em casa se reuniam na cozinha para comer pipoca com melado e tomar chimarrão.

E quando a chuva forte passava, eu e meu irmão mais novo saíamos para a rua, molhávamos os pés e depois pisávamos nas cinzas do forno de pão. Depois escorregávamos na grama molhada. A cinza em contato com a grama molhada formava uma espécie de ‘escorregador’, e a brincadeira era muito divertida. Muitas vezes levávamos uma sova porque a gente se sujava muito, e naquela época não tínhamos chuveiro elétrico em casa, a gente se lavava na água fria do poço, o que em certas ocasiões acabava em febre e resfriado. E minha mãe já estava um tanto farta de cuidar de filhos convalescentes.

Hoje, simplesmente observo a chuva que traz um armistício no calor do verão. Para mim, dias assim, são também de reflexão, um transporte para o passado, um passeio no futuro.

Gozo o presente com mais sensibilidade, na confiança de que a chuva trará bons augúrios neste início de ano.  

domingo, 22 de novembro de 2020

 

AMIGO É COISA PRA SE GUARDAR

 Quem tem um amigo nunca está só. Um amigo cúmplice, honesto, companheiro, verdadeiro. Aquele que estará ao teu lado no pior momento da tua vida, quando você está no fundo do poço e principalmente sem dinheiro. Já ouvi muitas histórias de pessoas que quando estavam com os bolsos cheios, tinham muitos amigos, depois foram à bancarrota e os amigos todos sumiram.

Você pode ter centenas ou milhares de contatos nas redes sociais, mas por favor, não chame de amigos, são apenas contatos. Amigo mesmo não passam de uma mão de dedos.

O verdadeiro amigo, te ama em qualquer situação e condição. Não te abandona nunca. São escassos, mas especiais. Talvez especiais, justamente por serem escassos.

Eu tenho um amigo especial que me dá orgulho, por quem eu tenho todo o apreço e o maior amor. E uma amiga também! Não vou citar nomes, eles sabem.

Mas essas amizades especiais não invalidam outras, mais superficiais, com quem também trocamos prosa e energia. Eu tenho umas outras duas ou três pessoas, que talvez não me deixassem no relento caso eu carecesse.

 Resolvi escrever sobre amizade hoje, justamente porque precisei do socorro de um amigo, companheiro de longa jornada. E olha que faz tempo que não nos vimos, só por chamada de vídeo de vez em quando. Eu, precisando pedir ajuda, me vi um tanto perdida, desnorteada, este é o termo. Sem saber a quem recorrer, lembrei-me Dele. Não hesitei em pedir socorro. E a mão dele me salvou.

A minha amiga também me socorre sempre que preciso, principalmente falar dos meus dissabores.

Bem disse Milton Nascimento na sua Canção da América: ‘amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração’.

Meu amigo de longa data, de jornadas difíceis e ao mesmo tempo inesquecíveis, te guardo para sempre no meu coração, com muitas chaves, mas onde você sempre terá acesso. Você sabe que é para você que dedico este texto!

sábado, 31 de outubro de 2020

 

PASSAGEM

No vocabulário, passagem é o lugar onde se passa, passadouro. E é nesta condição, de passageiros, que estamos aqui na terra, numa experiência ímpar. Hoje, enquanto fazia minhas vinte voltas na pista da praça, que ao final somam 4km, eu vi um bando de caturritas descer das árvores buscando alimento no chão, decerto minhocas e outros bichinhos deliciosos. Estava abafado e suei bastante. Antes de eu findar meu percurso as caturritas voltaram ao topo das árvores, imagino que satisfeitas. A passarada canta muito e tem um sabiá que todo dia canta uma mesma nota, em quatro tempos: Lá, lá, lá, lá. É eu chegar na praça e já ouço o tom em Lá maior.  Isso me faz lembrar que tenho que treinar no meu teclado.

Depois de uma hora de caminhada, chego em casa e faço alongamentos. Tudo isso demanda tempo e energia. Deitada, alongando, olhei o céu pela janela aberta e lembrei do infinito, do ar, do mar, da nossa passagem pela terra. É tão bom viver, mas não deve ser tão ruim assim morrer. Despir-se do corpo material, e nesse ‘nudismo’ deixar cair por terra todos os problemas que nos afligem; a necessidade de alimentar o corpo, de mantê-lo saudável; a obrigação de trabalhar para nosso sustento; a dificuldade de administrar conflitos familiares e de outras convivências; o dever de evoluir.

Diante dos séculos e milênios da existência humana neste planeta, o tempo da nossa passagem por estas bandas, por mais longo que seja, vira segundos. E ai de nós se não aprendermos cedo aproveitar a ocasião. A hora derradeira chegará para todos. Para alguns de forma trágica, para outros de forma natural, para uns em tenra idade, para outros na velhice. O traspasse é inexorável.

Acabo meus exercícios certa de que o passamento não deve ser algo tão adverso, principalmente quando se tem certeza que do outro lado da passagem, para todos nós, há um plano diferenciado daqui e que se desenrola de acordo com nossas ações.

 E é nesse inquietamento que acabo minha manhã, empenhada em fazer o melhor que posso para quando chegar meu ensejo, eu estar pronta para merecer o bilhete de ida para uma melhor.