TARDE
DE QUARENTENA
Nessas
tardes longas de quarentena, tenho estado melancólica, saudosa do meu filho,
das minhas amigas e de outras tantas coisas. Em casa sempre há o que se fazer:
uma roupa para lavar, outra para estender, varrer o pátio, limpar o chão,
cozinhar, assar um bolo, fazer um creme... escrever, ler, assistir um filme ou
série. Mas nada se compara àquele abraço apertado recebendo uma amiga que vem
dividir um café com prosa.
Semana
passada resolvi ligar para algumas amigas, convidando, timidamente, se não se
importariam de vir me ver, afinal estou me cuidando, só saio com máscara, uso
álcool em gel todo tempo, não tenho sintomas.
Uma
das mais queridas, ousadamente aceitou meu convite. Às 16h ela me chamou no
portão. Coloquei a máscara e fui recebê-la. Ela também usava máscara. Abri a
porta e passei a mão no álcool, lavamos as mãos juntas e só então nos abraçamos
longamente. Foi o melhor abraço que troquei nos últimos meses, longo e
carregado de afeto.
Passei
um café, enquanto ela me contava da última viagem para Portugal, onde se
escapou ali, conseguindo embarcar de volta quando já alguns aeroportos estavam
cancelando voos por causa da pandemia. Conversamos sobre amenidades, rimos, nos
distraímos. Só tiramos as máscaras para tomar o café e comer o bolo de milho. Fora
o caloroso abraço inicial, não nos tocamos e nos mantivemos há um metro de
distância.
Foi
uma tarde tão valiosa que não consigo nem definir. Pudemos quantificar a essencialidade
da presença humana nas nossas vidas. Ter alguém para tomar um café, conversar,
abraçar, não tem preço, é algo divino!
Depois
de uma hora e poucos minutos ela se foi. Novamente nos demoramos num abraço
apertado e nos contaminamos de amor e energia!