AMORAS NA JANELA
No
jardim da minha vizinha tem um pé de amoras. Mas apenas as raízes e o tronco
são da vizinha. Os galhos, as folhas, flores e frutos, penderam todos para o
meu lado. Quando estudei Direito,
especificamente na disciplina das obrigações, lembro-me de um artigo do código
civil que diz que “os frutos
caídos de árvore do terreno vizinho pertencem ao dono do solo onde caíram...”.
Então, conforme dispõe a lei, as amoras da vizinha são minhas!
Mas isso
não tem a menor importância para mim, nem para a vizinha. O que importa mesmo é
a beleza que se forma na minha janela, principalmente nesta época do ano, entrada
da primavera. As folhas rechearam a copa; os frutos ainda estão verdes, mas
carregam os galhos e logo estarão amadurecendo. E os sabiás e bem-te-vis alvoroçados,
pulam de cá para lá, cada qual tentando criar uma melodia maioral para encantar
as fêmeas e conseguir iminente acasalamento.
Os ramos estão quase entrando na minha sala,
mas não vou arrancar uma folha sequer. Quero acompanhar este espetáculo da
natureza bem de pertinho. Lembro-me dos primeiros brotinhos que surgiram há um
mês. Cada manhã, a amoreira ficava um pouco mais verde e agora é um mar de
folhas. E minha casa se irradia de cheiro
verde e vigor. Quando tem sol, a sombra
da amoreira se desenha no meu chão. E eu caminho sobre esta obra de arte.
Quando os frutos maturarem, terei amoras
vermelhas ao alcance da minha mão. De manhã, ao levantar, vou abrir a janela e
compartilhar com os pássaros um saboroso café com amoras. Será uma festa só.