quinta-feira, 9 de março de 2017
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017
DE OUTROS CARNAVAIS
De origem pagã, o carnaval é uma herança de comemorações realizadas na Antiguidade
por povos como os egípcios, hebreus, gregos e romanos. Esses festejos serviam
para celebrar grandes colheitas e louvar divindades. Muitos entendidos dizem que o termo vem de outra expressão
latina: carnem levare, que significa
“retirar ou ficar livre da carne”. Na Idade Média, essas velhas
festividades pagãs foram incorporadas pela Igreja Católica, passando a marcar
os últimos dias de “liberdade” antes das restrições impostas pela Quaresma.
Nesse período de penitência - durante os 40 dias antes da Páscoa - o consumo de
carne era proibido. No Brasil, o carnaval tem influência do “entrudo”, folia de
origem portuguesa de onde veio o costume das “guerras de água”, muitas vezes
com direito a lama, laranjas, ovos e limões-de-cheiro, entre outros. Outra
tradição do Carnaval é o hábito de homens se vestirem com trajes femininos. A
explicação está na própria psicologia da festa, um espaço de inversão, em que
se busca ser exatamente o que não se é no resto do ano.
Hoje o carnaval é uma grande marca da cultura
brasileira. Virou mais “marca” do que Carnaval, atraindo turistas,
industrializando Escolas de Samba e roubando a pureza e a alegria natural dos
velhos tempos. Brincar Carnaval, ontem e hoje, ainda é deixar-se levar
pelas cores, pelo ritmo, pela alegria. É vestir-se de forma bizarra; é
mascarar-se para surpreender e provocar risos; é dançar e pular no asfalto,
atrás dos carros de som que dão o tom da animação.
Eu gosto da euforia carnavalesca, tanto dos salões quanto
das ruas. Penso que se fantasiar, gritar, dançar, pular é uma catarse
obrigatória que nos liberta de certos disfarces que a vida gregária nos obriga
ostentar depois de toda quarta-feira de cinzas. Então, eu vou botar meu bloco
na rua. Eu, por mim, “queria isso e aquilo, um quilo mais daquilo, um grilo
menos nisso, é disso que eu preciso ou não é nada disso... Eu quero é todo
mundo nesse carnaval”. E não me venha fazer jejum na Quaresma, querer dar uma de
santo, que eu já te conheço de outros carnavais.
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017
NINHO VAZIO
Quando se é mãe,
se amamenta, se cria, se educa, acostumamo-nos com as crias sob nossas asas.
Vamos cuidando e protegendo, estendendo ao máximo esta ligação.
Mas chega o dia
que é preciso e salutar romper o vínculo. Uns filhos saem de casa aos poucos,
vão trabalhar, estudar, mas continuam morando próximos ou junto dos pais.
Outros são mais radicais, fazem mochila e se mandam pelo mundo; outros vão
ficando até terminar estudos, arranjar trabalho, poder se sustentar, até
casar... Permanecem porque é cômodo e até porque as mães adoram e vão
alimentando esta estadia prolongada, aos moldes das ‘mamas’ italianas, ao
contrário do modelo americano.
Nunca tinha
pensado muito nisso, embora sempre ouvisse falar. Mas quando a situação se
apresenta na nossa realidade é que tomamos consciência do sentimento que é ver
os filhos voarem do ninho. Principalmente quando o filho é único.
As mães passam a
sofrer da síndrome do ninho vazio. Uma falta da presença dele (a) por perto;
uma saudade de vê-lo (a) chegar suado (a) da rua, do seu chamado ‘manhê o que
tem pra comê’, ou ‘cadê minha toalha?’. E agora de quem vai se cuidar? Da nossa
vida, talvez. Um pouco mais de nós que ficamos nos esquecendo neste longo
período de exercício da maternidade.
Embora sabendo
que o voo é salutar para o crescimento, maturidade e independência deles,
sentimos incerteza e angústia por não saber se os seus projetos vão se
edificar. Um ‘não sei o quê de não sei o quê’. Algumas mães devem achar bobos
estes sentimentos difíceis de explicar, mas tão intensos no sentir. Mas sei que
muitas mães que já passaram por isso compreendem do que se trata. E nessas
horas é sempre bom ouvir as experiências de outras mães, que nos ouçam,
acalmam, dão o ombro. Tenho pensado em criar um CMNV (clube de mães de ninho
vazio), para encontros de terapia coletiva. Quem se habilita a participar? Vou
estudar como criar o regulamento.
Enquanto isso vai se exercitando o ritual de “deixe-os ir”. Faz parte da
ritualística soltar um barquinho no mar, plantar uma árvore, flores, organizar
uma horta, fortalecer nossa fé. Eu comecei
mudando as plantas de lugar. Assim, vamos deixando o papel de mãe, uma forma
importante e catártica de ajuda-los seguir em frente.
O importante é que a base do ninho permaneça sólida. E se as avezinhas
precisarem executar um voo de emergência saberão onde pousar.
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