sexta-feira, 2 de março de 2018


ARES DE OUTONO

Eis que chega o março. Depois de três meses de verão intenso, com suas peculiaridades, já podemos sentir o ar da graça do outono se aproximando.
O equinócio de outono no Brasil ocorre por volta do dia 20 e 21 de março. É um momento em que o Sol bate com igual intensidade em ambos os Hemisférios, Norte e Sul. Portanto, ele bate bem em cima da Linha do Equador, uma linha imaginária que corta o planeta ao meio. Neste período os dias e as noites possuem a mesma duração. O equinócio é um período intermediário entre o solstício de verão e o de inverno de um determinado hemisfério. Tal episódio da natureza acontece duas vezes ao ano, resultado do movimento de translação e de rotação da Terra. Esse é o momento em que as folhas secam e caem, os últimos frutos são colhidos e a colheita é guardada para o inverno. É preciso que as duas polaridades estejam em perfeita sintonia para que a Natureza possa se manter equilibrada.
Mas não é sobre geografia nem astronomia que desejo escrever. Quero mesmo é dizer que amo a estação do outono! O verão tem suas belezas, eu, entretanto, não sou devota dos seus encantos. O calor me deixa ansiosa, a ansiedade me faz suar muito mais do que o normal e ambos exaurem minhas forças.
Prefiro temperaturas mais amenas - o ar fresco invadindo minha janela, roçando meu rosto nas manhãs de outono, provoca uma química benéfica sobre meus nervos. Um ânimo especial toma posse de mim, renova minhas crenças e sonhos. Assim como alguns tipos de vegetação mudam, com a queda das folhas para adaptação à mudança de clima, meu humor também vai modificando. O sono melhora e a energia e disposição aumentam. Os sentimentos que já não cabem mais no meu coração se transformam, e no prelúdio do outono diluo minhas dores, abandono meus medos, encapoto  saudades e redesenho esperanças.

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

PERSPECTIVAS

Talvez porque hoje é o primeiro dia útil do ano, acordei com esta palavra martelando meus sentidos. As perspectivas para 2018! O termo têm vários significados.  Originada do latim ‘perspicere’, significa ‘ver através’, de PER, através, mais SPECERE, ‘olhar para’. É o modo através do qual alguma coisa é representada ou vista; processo de representação de objetos tridimensionais sobre uma superfície plana, feito a partir das linhas que convergem para uma marca central. É tudo o que se consegue ver ao longe, aquilo que os olhos alcançam desde um lugar; sensação esperançosa, expectativa.
Vou me ater à perspectiva como a sensação de esperança, de expectativas para este ano. Minha análise astrológica diz que este será um período propício para estabelecer acordos e parcerias. Pois bem, a primeira e maior parceria que desejo fazer é comigo mesma. Quero estabelecer acordo com minha consciência, de que neste ano vou traçar poucas metas, mas vou concluí-las e com êxito; vou ser menos ansiosa, mais resiliente, persistente e generosa. Não vou permitir pensamentos negativos, nenhuma ideia pessimista e se alguma surgir vou banir.  Firmarei parceria com a paz de espírito de modo que nenhum ruído externo possa me aborrecer e se acontecer, saberei contornar e me realinhar. Vou cuidar do meu corpo como santuário da minha alma, cultivando os hábitos saudáveis e a calma.
No meu lar e com os amigos vou manter diálogos edificantes, não permitirei vozes alteradas nem silêncios constrangedores, e se acontecer vou preencher com uma frase bem humorada que resulte numa gargalhada.
Assim, justa e contratada comigo mesma, vou iniciar o ano tentando não quebrar nenhuma cláusula deste contrato, cumprindo as obrigações, preservando o objeto, na perspectiva de renovação para muitos outros períodos.  

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

VÉSPERA

A palavra que amanheceu na minha cabeça hoje é véspera. Do latim ‘vespera,ae’, à tarde, ao cerrar da noite. É o dia que imediatamente antecede aquele de que se trata. A véspera do feriado, do Natal, do Ano Novo, do casamento, do aniversário...
O dia da véspera sempre se sabe, menos a véspera da nossa morte. Este dia que embora seja certo, não conhecemos, tem véspera indeterminada.
Como sempre fui muito ansiosa, toda véspera de uma data importante, causava-me aflições, palpitações, até enjoos conforme a ocasião, independente do evento do dia seguinte ser bom, ruim, ou imprevisível. O tempo e a maturidade me fez ter controle maior sobre as emoções. Já não tenho palpitações, nem enjoos, embora ainda perca o sono. Véspera para mim não é palavra nem instante muito agradável. Metaforicamente podemos dizer que quem se antecipa muito a ponto de ficar ansioso ou nervoso está sofrendo antes da hora – daí surge a frase “o peru é quem sofre de véspera” – pois bem, eu sou como o peru.
Assim, bom mesmo no meu entender é o dia do fato, vésperas não. Gosto é da véspera de nada, só esta me deixa em grande sossego, me traz tranquilidade. Vésperas de viagem abomino, esconjuro. È uma gama de correrias, miudezas para ajeitar, atenção redobrada a esquecimentos, listinhas, ânsias...  Bom mesmo é a véspera de não partir nunca, como diz Álvaro Campos – heterônimo de Fernando Pessoa, num poema: Na véspera de não partir nunca, ao menos não há que arrumar malas, nem fazer planos em papel... Não há que fazer nada na véspera de não partir nunca...”.
Augusto dos Anjos, também deveria ter mau palpite quanto às vésperas, fato é que escreve em seu poema ‘Versos Íntimos’: “Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro”. Disse tudo.