BARULHOS
Os sons
da rua são muitos: do motor e buzina dos carros e motocicletas, cães latindo,
gatos miando, pedreiros trabalhando nas obras, a máquina de lavar roupas, o
casal que mora na quitinete aos fundos e discute a relação todos os dias, parece
difícil o consenso. Ainda tem o autofalante do caminhão que vende frutas, do
outro que vende produtos de limpeza e aquele do gás.
A palavra
ruído, que é sinônimo de barulho, vem do latim rugitus (=rugido), que significa
qualquer som indistinto, rumor, barulho, estrondo, estrépito. É tudo aquilo que dificulta a comunicação e perturba a
recepção ou compreensão da mensagem. Traduz
uma interferência dolorosa entre o mundo e o eu, uma distorção da comunicação
em razão da qual as significações se perdem e são substituídas por uma
informação parasita que provoca desagrado ou aborrecimento. Assim sendo, na teoria da comunicação
ruído pode ser o barulho que impede o destinatário de ouvir o que se fala pelo
telefone, mas pode ser também o uso de palavras pouco usuais ou desconhecidas.
E no meio desta barulhada toda, ainda tem o som da TV do vizinho de cima, do
rádio do vizinho de baixo, da geladeira ligada na cozinha, do liquidificador,
da batedeira, das torneiras da pia, da descarga do banheiro, de passos na
calçada...
Quando se mora longe dos centros urbanos, estes ruídos
diminuem. Lá no meio do mato de onde eu vim, o silêncio era tanto que me
angustiava, sentia muita falta de algum movimento. Assim como hoje, muitas pessoas até se sentem mal em um ambiente muito
silencioso, dizendo que o silêncio assusta, eu pude vivenciar esta experiência
no início dos meus anos. Naquele tempo os ruídos locais eram os pássaros cantando, a água correndo na
fonte, a chuva caindo, o vento soprando e balançando as árvores. Os ruídos
humanos eram muito escassos. Ouvia-se o ruído de motor de carro muito poucas
vezes e ainda assim a uma longa distância.
Hoje luto contra os barulhos que me rodeiam, atrapalhando minha
concentração, ceifando meu sono e dispersando meus pensamentos. Somam-se ao
escarcéu, os sons perturbadores do nosso interior, oriundos das preocupações da
vida adulta, das incertezas, indecisões, questionamentos... Ah, esse barulho
atormenta demais! Rouba-nos a paz e a quietude. Põe nossos nervos à prova.
Aperta o coração e espreme a cabeça.
E assim segue a vida da gente. Neste driblo constante dos
ecos da modernidade, passamos os dias e as noites levando goleadas.
Nunca mais experimentei o silêncio pleno que tive na minha
infância. Embora tente exercitar-me na busca da quietude, confesso que é tarefa
difícil. O ‘som nosso de cada dia’ impede o apaziguamento
e a interioridade. Meu propósito é não desistir dessa busca e ainda almejo reencontrar
‘o silêncio que assusta’!