sexta-feira, 21 de dezembro de 2018


RETROSPECTIVA


Nesta época do ano fala-se muito esta palavra.  Originada do termo latino retrospectare "olhar para trás", significa, geralmente, rever e relembrar eventos que já ocorreram, em forma de um relato ou análise.
Então, você olha para trás, não só deste ano que finda, mas de toda sua vida vivida até aqui. Foram tantas fases, temporadas, eventos, caminhadas...  Muita coisa valeu a pena, outras você preferiria, certamente, viver de novo pra fazer diferente. Mas esta caminhada na esfera terrena não permite retornos, apenas ‘retoques’. Então pra não sofrer do passado mal vivido, o melhor é rever equívocos e tentar modificar comportamentos, retocar condutas, na boa intenção de não repetir burradas.
O ano que finda, particularmente, correu muito rápido. Foi muito ‘líquido’, diluiu-se em inquietudes com alguns armistícios. Dizer que foi tudo péssimo, também não é o caso, há que se considerar a saúde, o trabalho, os proventos que se tem e faz falta a tantos irmãos. Tenho ouvido algumas vozes dizer que foi ‘um bom ano’. Que bom pra você, penso eu! Outras vozes divergem principalmente no que tange a situação política do nosso país. Estamos numa encruzilhada, onde não se sabe o caminho que o próximo governo vai trilhar. Têm-se apenas algumas concepções. O governo passado pode ter tido seus erros, mas também teve seus méritos! Este que vem aí, embora aclamado pela maioria, me traz inquietudes.  Vamos torcer pelo melhor, porque o povo tá cansado de levar ripadas.
Enfim, final de ano é aquele momento que você tem a liberdade de sentar e repensar. E como é bom fazer isso! Refletir, filosofar. Pegar caneta e papel, fazer duas colunas: o que foi bom, o que foi ruim. Depois fechar o balancete. E não se esqueça de abrir a nova agenda com uma mensagem de otimismo, porque esta é a finalidade maior da virada de ano: repensar os feitos e traçar novos prismas.  De resto, é viver um dia de cada vez, sem fixar-se demais no pretérito, nem no futuro (tenho me esforçado com isso). A conjugação de todos os verbos no presente é uma boa tática pra não sofrer de ansiedade generalizada.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018


DESACOMODAÇÃO


Um pensamento e sentimento obstinado tem maleado meu ser: a ausência de algo que existia em mim e que não encontro mais. Uma sensação de pesar constante que me sufoca e atordoa, me desorienta, desconcentra, faz mal. Faço terapias, academias, tomo pílulas e homeopatias... Mas a dor não sai! Faz uns cinco anos que ‘o monstrinho’ voltou aos poucos. Primeiro uma angustiazinha e depressão leve, depois uma frustração maior, daí vieram questões econômicas, familiares, os anos passando, as inquietações se avolumando e nos cinquenta e poucos o pavor se instalou. Hoje me sinto bloqueada, com a paz interior sitiada correndo perigo. Sinto-me no limiar da loucura - (Ainda bem que a loucura é apenas uma construção social – senão eu estaria ferrada!).
Tenho dúvidas: de quem sou, do que eu quero, para onde vou? A maturidade que me brindou com a experiência e certo conhecimento trouxe à soga esta desacomodação interior. Ainda não me agrada a ideia dos anos terem passado tão depressa, da juventude ter-se escorrido vida afora e agora, mostra-se irônica nas fotos espalhadas nos álbuns, caixas e porta-retratos. Daí você se vê e conclui que ‘era tão bonita’, pena que não sabia!
Não gosto de escrever sobre estes pesares que me ocorrem e amolam, mas é uma forma de imprimir no papel toda a angústia que consome minha alegria e prazer. Se você não sente nada disso, ou melhora ouvindo uma música, cantando, dançando, correndo, viajando... Que bom, continue assim! Para mim, sempre foi mais difícil lidar com estes descontentamentos da vida. Sempre o que é simples para algumas mulheres, é bem complexo para mim. Eu sou assim, costurada de emoções, vibrando e transitando insanamente entre dois polos, buscando sempre um cômodo que melhor acolha minhas inconstâncias; um colo para prantear carências; um mar para desaguar meus vários rios.
Agora que desafoguei no papel, ou melhor, na tela, se fosse papel estaria molhado e rasurado, sinto uma ponta de alívio brotar no solo inçado da minha alma que luta, luta, e luta, mas não se acalma.

sábado, 10 de novembro de 2018


TOMANDO POSSE


Num surto de ânimo e vontade,  há tempos ausentes em mim, nesta semana remexi tudo na minha casa. Arrumei o roupeiro, guardando as roupas de inverno nas prateleiras e gavetas mais altas, deixando as de primavera e verão à frente, limpas e bem dobradas.  Desfiz-me daquelas que não uso mais, tirei o pó de tudo, borrifei com água perfumada de flor de laranjeira. Depois separei alguns calçados de saltos, que não posso mais usar por causa da lesão crônica no tornozelo, fotografei e anunciei para vender num site de desapego. Vasculhei tudo no quarto do meu filho, hoje desocupado, encontrei cupins no baú de guardar roupas sujas. Removi-o para fora. Com a vassoura retirei algumas teias de aranha nos cantos do teto, arredei móveis, varri e lavei tudo.
No outro dia fiz o mesmo nas outras peças, banheiro, cozinha, sala, área de serviço... Limpei, limpei e limpei, com vontade e carinho! As plantas que estavam empoeiradas lavei folha por folha, troquei a terra, mudei de lugar, e elas reavivaram.
Durante esta faxina de interação, fui percebendo o quanto eu havia deixado de lado a minha casa, meu lar, minhas ‘coisas’. Há muito eu não fazia isso, pagava para alguém fazer de vez em quando, não dava importância se alguma coisa estragava, se as flores estavam secas por falta de água, se o teclado se enchia de pó por falta de uso, se as roupas estavam amassadas por descuido e desleixo. Confesso que estive assim por alguns anos, meio ‘ausente’ da casa, da vida, de mim. Parece que de repente acordei! E nesta epidemia de ânimo que me toma agora, adotei a Maju, uma gatinha preta e mimosa, para preencher o vazio de animais na casa, que durou três anos, desde que minha gata Maia nos deixou. Até a vontade de ter e cuidar de um bicho tinha-me abandonado.
Incrível como é importante a gente cuidar do que a gente tem, seja lá o que for, casa, móveis, roupas, flores, bichos, companheiro(a)s, trabalho, ninharias ou não, são o que temos. Hoje me sinto novamente mais intensa e plena, retomando a posse do meu lar e da minha consciência, perdidas por negligência e desídia. Não posso me culpar, porque andei um tanto desorientada, consequência de sucessivos fatos e notáveis abalos que não vale a pena aludir. O importante é que me recobrei e estou disposta e alerta de novo para cuidar e amar o que me pertence. São as conquistas que a vida me permitiu até aqui, não posso ab-rogar por descaso e indolência.
Acredito que assim como eu, você também já deve ter passado por fases sinuosas aonde se vai abandonando tarefas e responsabilidades, o abatimento vai nos consumindo como se fosse uma planta parasita definhando a planta anfitriã. Ainda bem que o tempo, a vontade, o esforço e a fé, são recursos que nos acorrem, nos chamando de volta à posse de nossas vidas.