sábado, 9 de fevereiro de 2019


ESTAÇÕES

Tenho estado com esta palavra no meu pensamento, especialmente quando saio para caminhar na pista da praça aqui perto de casa, cheia de árvores, com pássaros e cigarras cantantes, típicos do verão.
As estações do ano são quatro: primavera, verão, outono, inverno, determinadas pelos equinócios e solstícios. É o tempo apropriado para certos plantios, são períodos assinalados por maior ou menor afluência de pessoas a determinados locais de interesse público ou cultural. Agora que é verão, por exemplo, os locais mais frequentados são as praias. E sempre é revigorante passar uns tempos próximos do mar, ou mesmo banhar-se nas águas doces dos rios e lagoas. O calor sufocante que tem feito pede este refresco para o corpo e a alma.
Mas minha estação predileta é outono. Para mim ele vai levando embora a euforia e o rescaldo do verão, e aos poucos vai trazendo um frescor gostoso e aconchegante, uma temperatura que nos permite pensar e movimentar melhor. A vida se renova e o sono melhora, enquanto a agenda começa pra valer.
Depois das folhas caídas do outono, o inverno vai tomando espaço trazendo consigo noites geladas, que pedem filme com chocolate quente e cobertor, botas, mantas e goros. Embora a vida nessa estação se retraia, ela tem seu charme especial, e os locais mais frequentados são as serras e outros onde a neve e a geada espalham sua beleza peculiar.
A primavera é a soberana da esperança, a rainha da beleza e das flores. O seu nome vem do latim primo vere, que significa “primeiro verão”.
Assim nossa vida também é feita de estações, metamorfoses, contrastes. Reconhecer a singularidade de cada etapa e vivê-la conforme o clima dita, é uma arte.  E cada verão vencido, com sua luz que amplia a nossa visão, aquecendo nossos projetos para o outono,  iluminando nossos passos  e nos tornando fortes para o próximo inverno,  é a prova da vida que prevalece até a vitória final.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018


RETROSPECTIVA


Nesta época do ano fala-se muito esta palavra.  Originada do termo latino retrospectare "olhar para trás", significa, geralmente, rever e relembrar eventos que já ocorreram, em forma de um relato ou análise.
Então, você olha para trás, não só deste ano que finda, mas de toda sua vida vivida até aqui. Foram tantas fases, temporadas, eventos, caminhadas...  Muita coisa valeu a pena, outras você preferiria, certamente, viver de novo pra fazer diferente. Mas esta caminhada na esfera terrena não permite retornos, apenas ‘retoques’. Então pra não sofrer do passado mal vivido, o melhor é rever equívocos e tentar modificar comportamentos, retocar condutas, na boa intenção de não repetir burradas.
O ano que finda, particularmente, correu muito rápido. Foi muito ‘líquido’, diluiu-se em inquietudes com alguns armistícios. Dizer que foi tudo péssimo, também não é o caso, há que se considerar a saúde, o trabalho, os proventos que se tem e faz falta a tantos irmãos. Tenho ouvido algumas vozes dizer que foi ‘um bom ano’. Que bom pra você, penso eu! Outras vozes divergem principalmente no que tange a situação política do nosso país. Estamos numa encruzilhada, onde não se sabe o caminho que o próximo governo vai trilhar. Têm-se apenas algumas concepções. O governo passado pode ter tido seus erros, mas também teve seus méritos! Este que vem aí, embora aclamado pela maioria, me traz inquietudes.  Vamos torcer pelo melhor, porque o povo tá cansado de levar ripadas.
Enfim, final de ano é aquele momento que você tem a liberdade de sentar e repensar. E como é bom fazer isso! Refletir, filosofar. Pegar caneta e papel, fazer duas colunas: o que foi bom, o que foi ruim. Depois fechar o balancete. E não se esqueça de abrir a nova agenda com uma mensagem de otimismo, porque esta é a finalidade maior da virada de ano: repensar os feitos e traçar novos prismas.  De resto, é viver um dia de cada vez, sem fixar-se demais no pretérito, nem no futuro (tenho me esforçado com isso). A conjugação de todos os verbos no presente é uma boa tática pra não sofrer de ansiedade generalizada.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018


DESACOMODAÇÃO


Um pensamento e sentimento obstinado tem maleado meu ser: a ausência de algo que existia em mim e que não encontro mais. Uma sensação de pesar constante que me sufoca e atordoa, me desorienta, desconcentra, faz mal. Faço terapias, academias, tomo pílulas e homeopatias... Mas a dor não sai! Faz uns cinco anos que ‘o monstrinho’ voltou aos poucos. Primeiro uma angustiazinha e depressão leve, depois uma frustração maior, daí vieram questões econômicas, familiares, os anos passando, as inquietações se avolumando e nos cinquenta e poucos o pavor se instalou. Hoje me sinto bloqueada, com a paz interior sitiada correndo perigo. Sinto-me no limiar da loucura - (Ainda bem que a loucura é apenas uma construção social – senão eu estaria ferrada!).
Tenho dúvidas: de quem sou, do que eu quero, para onde vou? A maturidade que me brindou com a experiência e certo conhecimento trouxe à soga esta desacomodação interior. Ainda não me agrada a ideia dos anos terem passado tão depressa, da juventude ter-se escorrido vida afora e agora, mostra-se irônica nas fotos espalhadas nos álbuns, caixas e porta-retratos. Daí você se vê e conclui que ‘era tão bonita’, pena que não sabia!
Não gosto de escrever sobre estes pesares que me ocorrem e amolam, mas é uma forma de imprimir no papel toda a angústia que consome minha alegria e prazer. Se você não sente nada disso, ou melhora ouvindo uma música, cantando, dançando, correndo, viajando... Que bom, continue assim! Para mim, sempre foi mais difícil lidar com estes descontentamentos da vida. Sempre o que é simples para algumas mulheres, é bem complexo para mim. Eu sou assim, costurada de emoções, vibrando e transitando insanamente entre dois polos, buscando sempre um cômodo que melhor acolha minhas inconstâncias; um colo para prantear carências; um mar para desaguar meus vários rios.
Agora que desafoguei no papel, ou melhor, na tela, se fosse papel estaria molhado e rasurado, sinto uma ponta de alívio brotar no solo inçado da minha alma que luta, luta, e luta, mas não se acalma.