terça-feira, 21 de abril de 2020


O ANO QUE NÃO COMEÇOU

Como é de costume, na passagem de um ano para o outro, tem toda aquela ritualística: se comemora o Natal, a virada do ano, vem as férias escolares, e do trabalho dos que ainda o tem.
A passagem de 2019 para 2020, já começou diferenciada, sem horário de verão. Muitos gostaram, outros abominaram, afinal há mais de 20 anos já era costume este ato de adiantar os relógios em uma hora.
Quem saiu de férias em janeiro conseguiu gozar bons dias. Em fevereiro, já se começou a ouvir ruídos distantes, vindos da China, sobre um vírus que estava matando pessoas em Wuhan. No começo parecia algo remoto, restrito àquela província, àquele país. Nesse meio tempo tivemos nosso carnaval, que encheu as praias, as ruas, os salões... todo mundo brincando feliz!
Passada a folia carnavalesca, tivemos notícia do primeiro caso importado do novo coronavírus, para o Brasil. Nesse período também, teve a retirada de 40 brasileiros que moravam na China, trazidos de volta num avião da FAB, ficando em   quarentena em Goiás.
No meio disso tudo, a enchente em São Paulo e Minas Gerais, a estiagem na região sul. A reforma da previdência, a reforma trabalhista, a reforma administrativa e tributária... mal faladas e trancadas no foro da política.
Voltando ao coronavírus, foi em curtíssimo tempo que se transformou em pandemia, intitulado Covid19. As autoridades da saúde mundiais e locais decretaram o isolamento social para evitar sua expansão. Já estávamos dentro de março, o comércio e escolas fechados, portanto pais e filhos em casa, as pessoas reclusas, fora dos seus trabalhos, gente morrendo nas UTIs dos hospitais que na sua maioria não dão conta da demanda de doentes. Tudo o que todos já sabem!
Tenho a severa impressão que o ano de 2020 ainda não começou. Dá um mal-estar, pensar nessa conjuntura toda: instabilidade social, política, econômica. Uma realidade sombria, que eu não gostaria de estar descrevendo aqui, mas é o que temos.
Eu ainda estou na expectativa otimista que o 2020 comece de uma vez, trazendo na brisa suave das manhãs de outono, a saúde para o Brasil e o mundo, e podermos todos sair correndo rua afora, sem máscaras, confinando amigos e familiares dentro do nosso mais fraterno abraço.







sexta-feira, 27 de março de 2020


#FUIPRARUA

Hoje foi o décimo dia da quarentena. Mesmo não tendo ainda sessenta anos, contrariando todas as orientações, rebelei-me contra o novo sistema instaurado por decretos das autoridades, mandando todo mundo ficar em casa por conta da pandemia, vesti minha roupa de caminhar e saí correndo rua afora.
O ar está mais leve, a poluição sonora acabou, consegui ouvir de longe até o canto das cigarras, mesmo aqui na zona urbana. Andei por várias ruas do meu bairro, passei no mercadinho da esquina e com a desculpa de que me faltou bananas, entrei, dei bom dia para o açougueiro, paguei as bananas no caixa e zarpei.
Encontrei dona Helena, uma senhora de mais de oitenta anos, que escondeu o rosto, como a dizer ‘estou fazendo arte, não me reprima’. Dei um ‘oi’ de longe, enquanto ela justificava que tinha lhe faltado leite. Um outro senhor, andando com seu cão, ao me ver, deu meia volta e entrou em casa, receoso de qualquer repreensão.
Concordo com as medidas de isolamento social, tomadas pelos governantes, no sentido de combater a aceleração exacerbada do Covid19. Mas estou muito preocupada com as consequências econômico-políticas dessa crise mundial.
E você vai dizer: - concorda, mas saiu para caminhar?
Sim, só hoje, daqui mais uma semana, talvez, saio novamente, só para contrariar, e me prevenir da loucura.

quarta-feira, 18 de março de 2020


O AMOR EM TEMPOS DE CORONAVIRUS

Em dois meses o mundo virou de pernas para o ar. Uma doença que teve início na China, transforma-se em pandemia, colocando o planeta em alerta. Não se fala em outra coisa, estamos vivendo uma experiência de fato, que antes só se via em obras de ficção científica.
Os meios de comunicação informam a todo instante sobre as estatísticas de crescimento da doença, número de afetados, casos em análise, mortes. De repente o trabalho deixou de ser tão importante, a recomendação de fechamento das escolas e de se trabalhar em casa, reaproxima pais e filhos dia e noite – interessante isso não?   
Viagens são canceladas, as prateleiras dos supermercados começam a ficar vazias, os grandes pontos turísticos do mundo, sempre cheios de visitantes, estão evacuados. Quem tem dinheiro para viagens, deixa de usá-lo porque é perigoso e não faz sentido viajar; assim como quem tem dinheiro para pagar os melhores médicos, hospitais e todo tipo de tratamento, de repente está com a mesma vulnerabilidade dos sujeitos ao sistema do SUS.
Esse instante merece uma reflexão especial: o que essa pandemia está trazendo de positivo para o mundo? Quem sabe a condição imposta, devido ao caos instalado, seja um bom momento para repensar nossos valores materiais e morais. Fazer um retiro de autoconhecimento. A terra é um planeta em transição. Estamos aqui de passagem, na tentativa de melhorar nossa condição moral e espiritual, de efetivar nossa reforma íntima, alicerçada na prática do bem, do perdão, da humildade.
O pedido do ministro da saúde para que os netos não beijem os avós, para protegê-los do contágio pelo vírus. A recomendação para que se mantenha distância de um metro um dos outros, que se evite cumprimentar com as mãos, nos faz ver o quanto necessitamos e dependemos do outro. Há muito que o ser humano está egoísta, prepotente, arrogante. Agora todos estão tendo tempo de parar e pensar, refletir sobre o sentido da vida, sobre nossa fragilidade. Estamos todos no mesmo barco, independentemente de condição econômica, social, de raça, gênero ou religião. Finalmente O MUNDO ESTÁ IGUAL.
Boa ocasião, para olhar para dentro de nós mesmos e também para o lado, ver o outro, exercer a solidariedade. Tomar consciência da transformação planetária, libertar-se da mesquinhez da Terra. Desenvolver nossa capacidade, ainda primária, de perdão, empatia e amor ao próximo.