segunda-feira, 30 de julho de 2012


LUGAR DE HOMEM É NA RUA

Foi um período de transição. Meu marido terminou uma sociedade comercial e mudou-se para dentro de casa com sua agência de publicidade. Era só por uns dias, até liberar um outro espaço que estava ocupado. Teve todo o meu apoio, afinal trabalhar dentro de casa era o melhor a fazer naquele momento. Ocorre que eu também não trabalhava mais fora. Recém tinha me aposentado e finalmente retomaria meus textos e outras mil e uma coisas proteladas, em casa.
Nos primeiros dias foi muito bom. No café da manhã e nas demais rotinas, nós dois juntinhos, ao alcance físico um do outro, vinte e quatro horas. Os dias passaram, fechou um mês, dois, três... Algo começou me incomodar. Aquela figura masculina, plantada na sala, na biblioteca e vice-versa, passou a me desconcentrar. Sem contar que a nossa casa virou um grande depósito de papel, computadores, impressoras, livros, revistas, tintas, cenários, tela e cavalete, porque meu amado homem transferiu até seu atelier para dentro do nosso lar.
Aquilo me foi sufocando e uma enorme necessidade de espaço e solidão tomou conta de mim. Não podia mais vê-lo à minha frente. Aquele homem, apesar de todo meu amor, diuturnamente sob meus olhos, definitivamente eu não aguentava mais. Sentia falta de sentir saudades! Tudo o que ele fazia, como o modo de sentar, a fala ao telefone, o riso, o bocejo, o espirro, a lentidão dos dedos no teclado, me irritavam. Procurava ficar o máximo de tempo nos demais cômodos da casa e fazer tarefas externas, mas quando retornava e via aquela mesma pessoa plantada no meio da nossa sala...Ai que raiva!
Até que um dia ele foi visitar um cliente e, depois de meses, passou toda a manhã na rua. Naquelas poucas horas produzi um mundo. Liguei o som no meu programa e volume, aspirei o pó da sala, penteei nossa gata, amassei e assei pão, escrevi, li e cantei. Nunca mais tinha me sentido tão livre dentro de casa, sem o grilhão daquela presença constante.
Me perdoem as mulheres que reclamam dos seus homens que vão ao futebol, com os amigos, que trabalham muito tempo fora, mas lugar de homem é na rua. É da essência masculina desde a gênese. Nós mulheres, podemos circular tanto dentro como fora de casa. Todos os espaços são nossos, porque somos necessárias em todo e qualquer lugar.
Homem dentro de casa, só para substituir ‘ipsis literis’ a mulher e à noite, com toda certeza, para o afeto e o sono. Fora destas hipóteses, deixem os homens no trabalho, no futebol, nas reuniões e com os amigos. É sua tarefa e talento. 

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