quinta-feira, 18 de abril de 2013


A TORTA DE DAMASCO


          Coisa que mais gosto é ir ao shopping num dia qualquer, sentar num café e lambuzar-me com uma fatia de torta ou outro doce, água mineral com gás e um carioquinha.
Numa tarde de final de fevereiro, pedi uma fatia de torta de damasco que estava me esperando, linda, iluminada e recheada, na vitrine da Bella Gula. A fatia custava sete e noventa, mais o café, foi doze reais.
           Cheia de satisfação abocanhei a primeira garfada. Fechei bem os olhos para sentir melhor o sabor do doce. Abri os olhos para uma nova sequência de garfadas, quando começo a pensar na careza daquele meu prazerzinho. Com quinze reais faço uma torta de damasco na minha cozinha, o que significa que estou comendo uma ínfima fatia pelo mesmo preço com que poderia estar comendo meio bolo, no mínimo. Mas aí tem o trabalho de fazer. Tem que ir ao super, comprar os ingredientes, cozinhar os cremes, fazer o bolo, montar a torta, deixar esfriar, e só depois comer. E o pior é a pia cheia de louça para lavar, eu suando na boca do fogão, açúcar nos cabelos, meleca nas mãos. 
           Volto para a fatia, já na metade. O que estou pagando afinal? Nesta fatia deve estar ‘recheado’ o valor dos ingredientes de toda a torta, parte do salário do funcionário que a confeitou, a energia gasta, o aluguel do bistrô, os impostos, o percentual do lucro do proprietário da franquia e sem dúvidas, o lucro daquele que menos participou da produção: o dono da rede confeiteira. 
            Bebi o último gole do café. Dei a última garfada no bolo, já meio enjoada daquele prazer. E nem considerei, na análise econômica, o valor da água com gás. 

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