O
ÚLTIMO RIVOTRIL DA CARTELA
Não é de hoje que tenho
me sentido estranha. Depois dos cinquenta, tudo foi se modificando aos poucos.
Meu sono virou um bloco de fragmentos; o ânimo anda desarranjado e tem dias que
não consigo achar graça em nada. A pele do corpo mais ressequida, ossos e
músculos mais langorosos e meus cabelos viraram cinza, de cor e de qualidade.
No canto dos olhos, no pescoço, as carquilhas do tempo gritam-me lembrando de
que ele está passando muito rápido. Celeridade que me causa enorme ansiedade –
rimou!
Já dissertei sobre isso
em outros textos, mas não me cansa reiterar que a idade me pegou de um jeito
ruim. Digamos que me sinto ‘desajeitada’ ou ‘desacomodada’ com ela. E a cada
dia que passa não sinto como ‘um dia a mais’, só consigo deduzir que é ‘um dia
a menos’. Não é percepção derrotista,
mas uma noção realística.
Estou consciente que é
uma via de mão única, que começa e termina num ponto ‘x’ da estrada. O tempo que antigamente parecia movimentar-se
sem pressa, agora me atropela, pedindo urgências. Quando eu tinha um sono bom e
todo vigor para executar meus ‘mil e um’
ideais, faltavam recursos, oportunidades, orientação... Hoje tenho algum
cabedal, maturidade, até diversas ocasiões, mas a time life minguada me causa pânico e imobiliza.
Mesmo me considerando
reencarnacionista, meu espírito não é suficientemente evoluído para aceitar de
boa a finitude do corpo físico. E confesso que me sinto incomodada com as pessoas que ovacionam
a sua terceira idade como se fosse um troféu a ser venerado. Gostaria muito de ter esta mesma emoção, mas
não consigo ter inspiração com isso. Procuro trabalhar e melhorar este
sentimento, tenho tido alguns progressos e muita expectativa de que antes de
acabar a pandemia da Covid-19, vou me convencer que os melhores anos serão os
vindouros. Enquanto isso vou lapidando meu sono com o último rivotril da
cartela!
É Mana, a vida é uma estrada com início, meio e fim. Mas envelhecer é uma grande Vitória. T amo MANA 🥰
ResponderExcluirTambém te amo mana! Sim, envelhecer é uma vitória sobre a morte, porque só tem dois caminhos: ou se morre cedo, ou se envelhece!
ExcluirPois é Dena! O tempo é duro conosco e ele passa tão rápido. Temos vontade de aproveitar cada segundo, mas às vezes faltam as condições e quando elas existem não nos damos conta de deveríamos ter aproveitado. Não sei se os próximos anos serão os melhores, apenas sei que hoje é o melhor momento. Vivamos a vida. Beijão guria.
ResponderExcluirBom dia querido! Pois é, parece que a grande sacada para não se angustiar com o tempo é viver o presente com a perspectiva de ser o melhor momento. Obrigada pela leitura e pelo carinho de sempre. Saudades! Beijão.
ExcluirAcho que todo mundo se sente assim, ando vivendo a conta-gotas, cada agora, sem projetos... um dia de cada vez. Lindo texto. Parabéns.
ResponderExcluirOi querida!
ExcluirEntão, parece que escolher o hoje como o melhor momento é a grande sacada para não sofrer 'de velhice', kkkk.
Obrigada pela visita, leitura e carinho. Beijos
Olá Dena!! Acho que sou muito distraída: não sofro com essa angústia da finitude. Essa pandemia cortou meus baratos de viajar. No mais, levo a vida "quase" normal. Vivo o hoje intensamente. E estou próxima do 77 anos. Tenho muita coisa para fazer ainda.Mesmo com os joelhos doendo!! Beijão!!
ResponderExcluirOi querida profe Selma. Coisa boa saber que a idade não te abala. 77 anos com todo este otimismo! Que maravilha! Quanto aos joelhos doendo, é quase nada, eu, com 57, tenho hérnia de disco na lombar, desgastes ósseos, e outro escambau! Quanto à pandemia, logo todos estarão vacinados e tu poderá retomar as viagens. Viajar, conhecer novos lugares é aprendizado! Beijão, te amo sempre.
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