sexta-feira, 14 de julho de 2017

FRUSTRATIONES

A palavra frustração é originada do latim frustratione. É um substantivo feminino que nomina o ato de frustrar-se. E frustrar-se significa uma insatisfação resultante de algum impedimento na realização dos nossos desejos. A frustração ocorre quando identificamos um erro entre aquilo que planejamos e o que realmente aconteceu.
Este sentimento muitas vezes é provocado pela ação de outras pessoas que podem nos frustrar de várias maneiras, uma vez que seres humanos são maravilhosos e ao mesmo tempo imprevisíveis. Já me decepcionei com amigos pelos quais tinha enorme consideração, e aprendi que as pessoas podem ser irracionais, injustas e inconsistentes. Por outro lado os nossos erros e omissões também desapontam os outros. Ou seja, nós também podemos ser uma fonte de frustrações para os próximos. Não podemos controlar o comportamento dos outros, mas nossas reações a ele, sim.
Eu penso que ainda é mais fácil lidar com as frustrações que os outros nos causam do que aquelas que praticamos pelos próprios erros. Nossas malogradas ações provocam decepções tamanhas que muitas vezes nem conseguimos mensurar. Somente depois de passado bom tempo é que elaboramos tais equívocos. Frustração de um namoro que não deu certo, de uma carreira mal-aventurada, de um amor não correspondido, de um projeto não elaborado ou um casamento malfadado.
A fórmula para nos preservar de maiores desilusões, parece estar no modo como nos comportamos diante das adversidades.  Enxergar a frustração como um ‘atraso no nosso sucesso’ em vez de um ‘fracasso’, é uma boa ação. Ao longo da minha vida, por exemplo, eu me dei conta de que foi muito bom que certas coisas que um dia eu quis, nunca aconteceram. Temos o costume de associar nossas expectativas com felicidade, mas nós não sabemos o que nos fará felizes e nossos palpites a esse respeito quase sempre estão errados. Geralmente a felicidade não está no ‘pacote que idealizamos’.
Finalizo dizendo que a resiliência, a criatividade e a valorização das nossas pequenas vitórias, são grandes aliadas.

No mais, cuide-se ou lamba suas feridas, na solidão. 

sexta-feira, 30 de junho de 2017

CAFÉ DA MANHÃ

O moinho do café
Mói grãos e faz deles pó.
O pó que a minh’alma é
Moeu quem me deixa só.
Fernando Pessoa

O café da manhã, para mim, tem uma ritualística. Não consigo comer qualquer coisa e sair cumprindo agenda. Já fiz isso muitos anos na minha vida. Hoje, com mais tempo disponível, me reservo o direito de compor os ingredientes do desjejum de forma quase litúrgica.
Para quem não tem o hábito de tomar café da manhã, qualquer motivo basta para justificar o descompromisso: falta de fome ao acordar, falta de tempo, preguiça e muitas outras desculpas. O que muita gente não sabe é que a primeira refeição do dia ajuda-nos a ter uma vida mais saudável, com melhor desempenho intelectual e melhor desenvolvimento no trabalho. O café da manhã tem a importante função de repor a energia que foi gasta durante o sono. Além disso, estudos indicam que realizar o café da manhã ajuda no controle da ingestão alimentar durante o dia, auxiliando no equilíbrio do peso. Os nutricionistas dizem muito mais, compõem receitas para o café da manhã, mas bom mesmo é o básico: o pão fresquinho da padaria da esquina, a manteiga da feira e ao menos uma fruta – a banana tem unanimidade na maioria dos lares. Açúcar, gosto do mascavo, também da feira.
O cheiro do café passado estimula o cérebro, instiga a alma. Tem algo mais saboroso que o café fresquinho? Existem muitas cafeterias aqui em Porto Alegre e demais cidades do estado e país – gosto muito de frequentar!  Mas nada supera o café passado na nossa cozinha de manhã cedinho. O aroma enche a casa e o nosso ânimo para enfrentar o dia ganha um salto de qualidade. Ele vai além do hábito da manhã, além da energia extra e das horas pesadas de trabalho. O café também serve para confortar a alma. Nosso poeta das coisas simples, Mário Quintana, assim poetizou:
O café é tão grave, tão exclusivista, tão definitivo
que não admite acompanhamento sólido. Mas eu o driblo,
saboreando, junto com ele, o cheiro das torradas-na-manteiga
que alguém pediu na mesa próxima.


sexta-feira, 26 de maio de 2017

ANSEIOS

Conforme dicionário online de português, o verbo ansiar significa: querer algo com muita força; desejar insistentemente: ansiava por dias melhores. Verbo transitivo direto e pronominal. Ocasionar ou estar sentindo ânsia; angustiar ou angustiar-se: ansiava-se por nunca conseguir um emprego. E mais: possuir dificuldades para respirar; ofegar.
Meus anseios são tantos, que me encaixo no sinônimo de ‘possuir dificuldades para respirar’. Às vezes tenho a sensação que passo os dias com a respiração ofegante, como se tivesse participando de uma maratona infinita. E esta aflição congênita me desconsola, comprime e consome.
Meus sequentes suspiros litigam mudanças que se arrastam no tempo e não acontecem. Não por comodidade minha, mas por depender de circunstâncias alheias. Aprecio novidades, minha essência é metamórfica e a constância dos dias me angustia. Quero ar, quero vida, quero mar!
Sofro e choro nesta vida regular que verte para a extinção. Não contemplo grandes feitos além dos dias banais. Uma pequena saída aqui, uma que outra distração lá, algumas conversas entre um café e outro com minhas poucas amizades, porque muitas nem me interessam, pois mais vale uma porção verdadeira do que uma batelada de frivolidades.
Nas mídias e redes sociais percebo apenas a solidão de quatro esferas emocionais contemporâneas: a exaltação do ego, a necessidade de autoafirmação, a sensação de pertencimento e de obrigação. As mídias sociais criaram uma silenciosa e acirrada disputa entre as pessoas para mostrar quem aparenta ter a vida mais bacana. Pensamos que estamos felizes com o que temos até nos depararmos com um update na rede social que sussurra o contrário: você poderia ser mais interessante. Não para você, claro, mas para os outros. E isso exprime o vazio existencial que está presente na vida de todo ser humano, em maior ou menor grau. Não é privilégio meu! E isso até me conforta.
Às vezes tenho dificuldade, mas me esforço para preencher esta minha eterna busca por coisas novas, esse meu vício de querer coisas que não sei o que é por meio da arte de escrever, cozinhar, rezar e amar.

Assim vou extravasando os sentimentos, dando um sentido de transcendência à vida. E fora disso, como um poeta certa vez me disse: ‘não diviso ter sinal de liberdade’.