quinta-feira, 18 de abril de 2013


A TORTA DE DAMASCO


          Coisa que mais gosto é ir ao shopping num dia qualquer, sentar num café e lambuzar-me com uma fatia de torta ou outro doce, água mineral com gás e um carioquinha.
Numa tarde de final de fevereiro, pedi uma fatia de torta de damasco que estava me esperando, linda, iluminada e recheada, na vitrine da Bella Gula. A fatia custava sete e noventa, mais o café, foi doze reais.
           Cheia de satisfação abocanhei a primeira garfada. Fechei bem os olhos para sentir melhor o sabor do doce. Abri os olhos para uma nova sequência de garfadas, quando começo a pensar na careza daquele meu prazerzinho. Com quinze reais faço uma torta de damasco na minha cozinha, o que significa que estou comendo uma ínfima fatia pelo mesmo preço com que poderia estar comendo meio bolo, no mínimo. Mas aí tem o trabalho de fazer. Tem que ir ao super, comprar os ingredientes, cozinhar os cremes, fazer o bolo, montar a torta, deixar esfriar, e só depois comer. E o pior é a pia cheia de louça para lavar, eu suando na boca do fogão, açúcar nos cabelos, meleca nas mãos. 
           Volto para a fatia, já na metade. O que estou pagando afinal? Nesta fatia deve estar ‘recheado’ o valor dos ingredientes de toda a torta, parte do salário do funcionário que a confeitou, a energia gasta, o aluguel do bistrô, os impostos, o percentual do lucro do proprietário da franquia e sem dúvidas, o lucro daquele que menos participou da produção: o dono da rede confeiteira. 
            Bebi o último gole do café. Dei a última garfada no bolo, já meio enjoada daquele prazer. E nem considerei, na análise econômica, o valor da água com gás. 

sábado, 29 de dezembro de 2012

Queridos e queridas, finalizo o ano com este poeminha que 'acabei de tirar do meu forno'. Ofereço-lhes, com todo meu carinho e o desejo de que em 2013 todos possam 'preencher sua folha' com valiosos e bonitos traços!

Complimenti a tutti voi!

LIÇÃO DE CASA

Ano vai, ano vem...
O tempo é contínuo.
Longo pra uns,
Nem tanto pra outros -
Uma folha que recebemos
Em branco.
A lição de casa pra fazer!

Uns desenham, escrevem, pintam;
Outros fazem conta, rabiscam,
Amassam, jogam no chão...

Como se usa esta folha,
É o que conta na avaliação.
Uns passam com grandes méritos,
Outros ficam na recuperação.
 

domingo, 25 de novembro de 2012


BELEZAS DE VERÃO



Neste período do ano, a maioria dos jornais, principalmente os de grande circulação e capitais, dedica diariamente um espaço para mostrar beldades que circulam pelas areias. Sereias! “Fulana na praia do Cassino, Beltrana nas areias de Atlântida”. Ninguém conhece, nunca viu a tal criatura, nem mais gorda nem mais magra. Agora é mostrada com todas suas curvas, cabelos, olhos, bocas, caras e dedos. Linda! Escultural!

Por que não colocam foto de mulheres ‘normais’ nestes espaços? Normal como é a maioria, com algumas gorduras há mais ou a menos; seios e bundas ‘naturais’, provando que o tempo não pára; a linearidade das curvas comprometida pela diminuição do colágeno: estrias, celulites, pelanquinhas, gordurinhas, barriguinhas, ruguinhas. Por que não é bonita? Paradigmas da moda, época, cultura.

No passado quando os padrões de beleza eram outros, a mulher tinha que ser branca, para provar que não precisava trabalhar ao sol para sobreviver, e gordinha para provar que não passava fome e tinha um corpo bem constituído para ser uma boa mãe. Este era o estereótipo das modelos da época. Pousavam para os grandes pintores como Renoir (1884/87). Suas mulheres nuas, fisicamente palpáveis, corporificadas, vivas, opulentas eram disputadas pela elite mundial a peso de ouro.

Hoje temos que passar fome, gastar muito em cosméticos, estéticas, dietas, trabalhar e malhar, para transpirar beleza. Que loucura gente!

Na verdade existe uma enorme diferença entre uma mulher bonita e bela. Nem tudo o que é ‘bonito’ é ‘belo’, no sentido literal da palavra. Existem muitas mulheres belas, mas não tão bonitas, passeando pelas areias neste verão. Mas esta beleza nenhuma câmera capta. Nem mesmo estas digitais com alta resolução de imagem. Uma mulher bela é elevada, sublime, agradável aos sentidos. Vai muito além da sua pele e forma. É inteira, única e original. É encontrada no olhar, no sorriso, na atitude. Com esta beleza, os cremes e bisturis tornam-se obsoletos. Esta beleza o tempo não rouba, só aprimora.