QUEM SOU
Nascemos dependentes, parte de nossas
mães. Com afeto e alimento, crescemos. Afeto muitas vezes falta. Alimento, em
certas circunstâncias também. Assim vamos evoluindo. Caminhamos, falamos,
brincamos, estudamos. E chega a adolescência. A personalidade está formada. As
impressões da primeira e segunda infância, boas ou ruins, já estão impregnadas.
No decorrer do tempo vão-se mostrando. Na busca da identidade é que, muitas
vezes nos perdemos. E nesse caminho tortuoso, acertando e errando, é que sofremos
e crescemos. Uns mais, outros menos.
Nossa identidade é algo que vai
mudando com o passar dos anos. E muitos chegam aos cinquenta sem saber
exatamente quem são. Como diz Fernando Pessoa: o eu profundo e os outros eus!
Alguém também disse que somos três: aquele que pensamos ser, aquele que os
outros veem e o que somos de verdade. É aí que está o xis da questão: quem
somos de verdade?
Eu sei que tenho vários eus. E certa vez escrevi: ‘gostaria de poder
agradar todas as mulheres que me habitam’. Mora em mim a filha, a mãe, a
esposa, a amante, a dona de casa que eu
não queria ser, a profissional que eu não consegui ser, a escritora e mais as
outras tantas que perdi pelo caminho.
A escritora é quem insiste em ficar e
eu luto pra manter. Essa me faz bem. E quando sofro e choro é na ponta da
caneta que busco consolo. E quando estou animada e feliz, ela palpita comigo.
Dessas várias personalidades que me
habitam, algumas, sinceramente, eu gostaria de exonerar, me despojar. Outras eu
aprecio e convivo bem.
Mas a escritora, intensa, sensível,
delicada e complicada, se sobreexcede. Resistente,
inventiva e contumaz, sobrevive a todas as demais.
Essa me incita, me abriga e me
liberta. Só nela encontro paz e sossego pra minha mente inquieta.