terça-feira, 1 de novembro de 2016

AGENDA PRA VIVER BEM

A semana começa com limitações no café da manhã. A recomendação é uma fruta, uma fatia de pão integral torrado com manteiga light, uma fatia de queijo branco, uma xícara de leite de soja. Depois ao menos uma hora de exercícios físicos, não pode faltar meia hora de caminhada. Tem que ter o lanche da manhã, porque se recomenda seis refeições leves por dia. Pode ser uma barra de cereal light, ou uma ameixa fresca, ou três castanhas do Pará. O almoço deve ser leve. Duas colheres de arroz integral, um prato de sobremesa de salada de rúcula, um filé de frango com gengibre, uma taça de abacaxi com raspas de limão. Repousar após o almoço recarrega as energias e nos torna mais prolíferos. Então faça isso.  Ah e não se esqueça da xícara do chá verde, do suco detox, de comer maçãs, cereais... Para a janta, sempre antes das 20h, um prato fundo  de sopa de grão-de-bico com inhame e espinafre é a melhor escolha. Tempere tudo com azeite de oliva extra virgem, de preferência os com acidez inferior a 0,5%, que por sinal são mais caros.
Banhos frios fazem muito bem à saúde, pois ativam a circulação e melhoram a pele. Carne de peixe ao menos uma vez na semana não pode faltar na sua mesa.  Não podemos esquecer de fazer checapes periódicos na ginecologista, dermatologista, cardiologista, otorrino, gastro... Para as mulheres que já passaram dos cinquenta, tem a fase da reposição hormonal. Tomar hormônios, vitamina D, cálcio, e ao menos vinte minutos de sol por dia. Quando se tem outros problemas de saúde, não se esquecer dos horários dos medicamentos, que podem ser para a pele, para o sangue, para os ossos, para o colesterol, pressão, diabetes, estômago, coração, para os nervos, pra pampa que o pariu.
É fundamental passear e conversar com as amigas. Dançar faz bem à alma, revigora nossas energias. Ir ao cinema, teatro, shopping, viajar, namorar. Portanto, ponham na agenda estas atividades ao menos uma vez por semana. Contato com a natureza, ter tempo todo dia para a família e amigos, meditar, fazer um trabalho de caridade, espiritualizar-se, dormir, ouvir música, se possível aprender a tocar um instrumento musical. Visitar velhos conhecidos, escrever e ler, nem que seja a coluna de esportes do jornal. Ter um animal de estimação, sem esquecer que isso envolve idas e gastos com veterinário, vacinas, ração, pet shop, e tempo pra passear ao menos duas vezes por dia, principalmente se o bichinho for um cão. Beber dois litros de água por dia é condição ‘sine qua non’. Nada de muito sal na comida e, por favor, corte os carboidratos. Fazer sexo com certa frequência diminui os riscos de infarto fatal.
E se você ainda não se aposentou, tem que ter o tempo para trabalhar. E para estar com boa disposição e produtivo, é importante dormir ao menos oito horas por noite. Existem muito mais itens que não cabem em apenas uma crônica, mas talvez caibam na sua rotina. Se você consegue administrar tudo isso na sua agenda de 24 horas, considere-se uma pessoa excepcional, atípica, abnormal. Boa sorte!

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

SUBINDO A LOMBA
A vida é uma lomba. Ou, a vida é feita de lombas. Desde criança, até hoje, escalo muito. Quando comecei o ensino primário, e isso já faz um bom tempo, descia e na volta da escola, subia, em torno de dois quilômetros por uma trilha íngreme, cheia de matos, macegas e medos.
Agora, sempre que volto da academia, subo mais ou menos um quilômetro de lomba. E numa dessas subidas vinha pensando, quanto eu já lombeei nesta vida. E não só eu, vocês que estão me lendo, também. A maioria! Senti-me cansada, pesada. Deve ser porque não tenho mais  vinte e poucos anos e quarenta e poucos quilos. Vim subindo em ziguezague, pra caminhada ficar menos custosa. Na metade da lomba, parei e olhei para trás. Havia feito um bom pedaço, mas ainda faltava outro tanto pra chegar em casa. Segui no meu ritmo, pensativa das coisas da vida.
Nossa caminhada por este chão às vezes é plana, limpa, descomplicada. Noutras vezes, o percurso é escarpado, cheio de sarças e frinchas. Difícil! À medida que a vida segue, vamos perdendo a força física, mas com a experiência aprendemos a driblar as adversidades. Como por exemplo, caminhar em ziguezague numa lomba.  Parar no meio da etapa e tomar um gole d’agua ajudam muito; ter a consciência maina, também, porque quando a consciência está maciça, o peso é dobrado. No caminho encontramos pessoas de todo gênero, sempre buscando o mesmo que nós: trajetórias fáceis. Mas como cantava Raul Seixas ‘é de batalhas que se vive a vida’. E subir lombas tá no pacote.
Mas eu quero uma folga destas tantas subidas na minha vida. Tenho sede de mar e planícies. Quero ar fresco e sombra. Se eu mereço, não sei, mas querer é meu direito. E enquanto sonho com oceanos e várzeas continuo a marcha, quebrando esquinas, atravessando atalhos.

sábado, 1 de outubro de 2016

ZONA CENTRAL

Ontem fui ao centro da nossa capital. Costumo postergar minhas idas, acumulando compromissos e tarefas que sou obrigada a fazer naquela região. Assim quando vou faço tudo de uma vez só, que é pra não ter que voltar tão cedo.
Mas desta vez fui com mais tempo e calma. O suficiente para observar e sentir tudo o que se passava ao meu redor e, choquei! O nosso centro está feio e sujo, mal cuidado, cheio de ambulantes de todo tipo, vendendo de tudo em qualquer lugar. Tá virado numa zona, no sentido mais pejorativo da palavra. Parece não haver mais regularização nem restrição. Até feirinha de frutas e verduras tem no chão de várias esquinas. E pra completar o caos, como estamos em véspera de eleições, a cada metro quadrado um cabo eleitoral oferecendo panfletos, santinhos, colinhas e bandeirolas. Gritaria, ruído, zoeira! Pontos de ônibus sempre lotados, na hora do pico as filas se arrastam calçada afora. Vê-se rostos cansados, peles suadas, olhos perdidos, expressões indignadas. Porto Alegre não é mais ‘Horizontes’ como cantava Kleiton e Kledir nos anos 80: ‘Há muito tempo que ando nas ruas de um porto não muito alegre e que, no entanto, me traz encantos e um pôr-do-sol me traduz em versos, de seguir livre muitos caminhos, arando terras, provando vinhos; de ter ideias de liberdade e ver amor em todas as idades’.
Há vinte e poucos anos quando me mudei do interior pra capital, sentia e respirava a beleza dessa Porto Alegre cantada em versos. Agora sinto minha querida Porto cinza e mal cuidada. A violência desenfreada, é um câncer que deixa o povo desassossegado. No centro a ordem é apertar a bolsa entre os braços, andar ligeiro e atento, ou de preferência não carregar bolsa nenhuma.
Nas imediações do Mercado Público e na Voluntários, final de tarde é uma balbúrdia. Todos apressados, correndo, se esbarrando. Uma neurastenia coletiva.
Respiro e procuro a beleza dentro deste rebuliço. Há muito pra se admirar; a graciosidade é perene e o encantamento se esconde por trás da desarrumação. Quem sabe os novos gestores eleitos possam exumar a Porto Alegre extraviada e trazer de volta a cidade que tem um jeito legal. A cidade que ‘me faz tão sentimental’. E poderei, então, cantar sem receio: ‘Não diga a ninguém, Porto Alegre me tem; não leve a mal, a saudade é demais; é aqui que eu vivo em paz’.