sexta-feira, 24 de agosto de 2018




CHOVE LÁ FORA

O inverno continua insistindo na sua presença fria, inexorável, pertinaz. Da minha vidraça observo as calçadas molhadas, poças na rua, o chuvisqueiro cortando o ar. A amoreira, com os poucos dias de sol e temperatura um pouco mais alta da semana passada, se encheu de brotos, folhas e pequenas frutinhas. Apressada, roga pela primavera. Eu, assim como a amoreira, me sinto pronta para rebentar minha natureza, reprimida pelas circunstâncias da vida. Tantos planos por germinar, expectativas malogradas, saudades contidas, rascunhos desperdiçados, versos não construídos. Quero gritar ou correr, não consigo. A chuva atrapalha as corridas, os gritos perdem-se na solidão da casa. E tudo fica no zero a zero, mas eu quero um a um. As vontades e lembranças são de amor e calor, mas a realidade me remete ao frio aqui do sul.
Bem dizem os especialistas e as pesquisas, que o clima pode alterar funcionalmente os estados emocionais humanos. Há uma estreita relação entre o humor e o tempo, sem dúvida. O verão é de humor elevado, o inverno reflete a introspecção. Deve ser porque a luz do sol estimula a produção de serotonina, dopamina e melatonina. É a química do cérebro ditando as regras do nosso bem estar. Mas não é só isso, além das reações químicas positivas que a presença do sol traz para o organismo, também existem benefícios psicológicos. Nos meses e estações onde os dias são mais quentes, iluminados e longos, existe algo no ar que nos convida a sair e interagir. No entanto, em dias em que o tempo está fechado e as temperaturas mais baixas, acontece o contrário, o convite para hibernar e refletir. É uma oportunidade de reciclagem interna. É o que estou tentando fazer nesses últimos dias de chuva, frio e quarentena: remastigando emoções, cogitando possibilidades, requalificando dados. Preparando-me para ‘soltar esta louca e arder de paixão’. 

sexta-feira, 27 de julho de 2018


BARULHOS

Os sons da rua são muitos: do motor e buzina dos carros e motocicletas, cães latindo, gatos miando, pedreiros trabalhando nas obras, a máquina de lavar roupas, o casal que mora na quitinete aos fundos e discute a relação todos os dias, parece difícil o consenso. Ainda tem o autofalante do caminhão que vende frutas, do outro que vende produtos de limpeza e aquele do gás.
A palavra ruído, que é sinônimo de barulho, vem do latim rugitus (=rugido), que significa qualquer som indistinto, rumor, barulho, estrondo, estrépito. É tudo aquilo que dificulta a comunicação e perturba a recepção ou compreensão da mensagem. Traduz uma interferência dolorosa entre o mundo e o eu, uma distorção da comunicação em razão da qual as significações se perdem e são substituídas por uma informação parasita que provoca desagrado ou aborrecimento. Assim sendo, na teoria da comunicação ruído pode ser o barulho que impede o destinatário de ouvir o que se fala pelo telefone, mas pode ser também o uso de palavras pouco usuais ou desconhecidas. E no meio desta barulhada toda, ainda tem o som da TV do vizinho de cima, do rádio do vizinho de baixo, da geladeira ligada na cozinha, do liquidificador, da batedeira, das torneiras da pia, da descarga do banheiro, de passos na calçada...
Quando se mora longe dos centros urbanos, estes ruídos diminuem. Lá no meio do mato de onde eu vim, o silêncio era tanto que me angustiava, sentia muita falta de algum movimento. Assim como hoje, muitas pessoas até se sentem mal em um ambiente muito silencioso, dizendo que o silêncio assusta, eu pude vivenciar esta experiência no início dos meus anos. Naquele tempo os ruídos locais eram os pássaros cantando, a água correndo na fonte, a chuva caindo, o vento soprando e balançando as árvores. Os ruídos humanos eram muito escassos. Ouvia-se o ruído de motor de carro muito poucas vezes e ainda assim a uma longa distância.
Hoje luto contra os barulhos que me rodeiam, atrapalhando minha concentração, ceifando meu sono e dispersando meus pensamentos. Somam-se ao escarcéu, os sons perturbadores do nosso interior, oriundos das preocupações da vida adulta, das incertezas, indecisões, questionamentos... Ah, esse barulho atormenta demais! Rouba-nos a paz e a quietude. Põe nossos nervos à prova. Aperta o coração e espreme a cabeça.
E assim segue a vida da gente. Neste driblo constante dos ecos da modernidade, passamos os dias e as noites levando goleadas.
Nunca mais experimentei o silêncio pleno que tive na minha infância. Embora tente exercitar-me na busca da quietude, confesso que é tarefa difícil. O ‘som nosso de cada dia’ impede o apaziguamento e a interioridade. Meu propósito é não desistir dessa busca e ainda almejo reencontrar ‘o silêncio que assusta’!

sexta-feira, 30 de março de 2018


PÁSCOA espírita

A palavra Páscoa, como todo mundo (ou quase) deve saber, tem sua origem no termo hebraico pessach, que significa ‘passagem’. No período pré-mosaico, era a festa dos pastores nômades pelo final do inverno e a chegada da primavera. Para o Judaísmo, o pessach simboliza a libertação do povo de Israel no Egito – Êxodo.  Depois, passou a ser a festa anual dos cristãos, comemorativa da ressurreição de Cristo.
A Páscoa, na verdade, sempre representou a passagem de um tempo de trevas para outro de luzes.
O Espiritismo respeita a Páscoa comemorada pelos judeus e cristãos, e compartilha o valor simbólico, ainda que apresente outras interpretações.  A liberdade conquistada pelo povo judeu, ou a de qualquer outro povo no Planeta, merece ser lembrada e celebrada. A ressurreição do Cristo representa a vitória sobre a morte do corpo físico, e anuncia, sem sombra de dúvidas, a imortalidade e a sobrevivência do Espírito em outra dimensão.  Para os espíritas, a Páscoa deve ser comemorada em todos os dias da nossa existência, traduzindo-se no esforço constante de vivenciar a  mensagem de Jesus. Eu sou partidária desta ideia e prática.
Para nos libertarmos dos “pecados”, ou seja, dos nossos erros, das nossas falhas morais, devemos estar dispostos a contribuir, praticando a caridade, o amor de uns pelos outros, nos salvando de complicações criadas por nós mesmos, através de brigas, violência, exploração, desequilíbrios, frustrações e muitos outros problemas que fazem a nossa infelicidade.
Assim, interessante aproveitemos mais esta data, para “renovarmos” nossas atitudes, refletindo sobre nossos feitos e no que podemos mudar daqui para diante, sempre no caminho da evolução, porque, fora disso, não há salvação!