terça-feira, 29 de maio de 2012


LIMITADA

Espremida no banco traseiro de um coletivo lotado, olho pela janela com vontade de pular. O trajeto parece não ter fim. Quando chego ao ponto de descer, sinto-me exausta. Abro a porta da minha casa apertada e meu gato pardo mia sofridamente lamentando por comida. Psiu, psiu, faço pra ele! Ele enrosca nas minhas pernas, sem esconder certa indignação. Abro o armário... Acabou a ração. ‘Hoje tu come a sobra de arroz com leite’.
Uma barata raquítica sai do ralo da pia, associando-se ao prato do gato. Ele mete a pata sobre ela. Aperta a presa que se finge de morta pra salvar a pele. Quando ele afrouxa,  a  coitada foge veloz pra sua vidinha de esgoto.
Meu banho é curto pra economia de consumo e contribuição com um planeta sustentável. Me seco na sala. O banheiro é apertado demais para eu esfregar as costas com meus braços compridos e cansados. Meu cabelo tá fraco e ralo. Sempre foi assim e a tendência é piorar. Esquento leite no microondas, tomo com um sanduiche de pão e mortadela. Uma banana pra arrematar o jantar! A TV de quatorze polegadas não pega direito. Abro o notebook, minha mais cara e preciosa aquisição.
Em frente à tela, tenho o mundo ao meu alcance. E minha vida limitada, finalmente se expande.

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