LIMITADA
Espremida
no banco traseiro de um coletivo lotado, olho pela janela com vontade de pular.
O trajeto parece não ter fim. Quando chego ao ponto de descer, sinto-me
exausta. Abro a porta da minha casa apertada e meu gato pardo mia sofridamente
lamentando por comida. Psiu, psiu, faço pra ele! Ele enrosca nas minhas pernas,
sem esconder certa indignação. Abro o armário... Acabou a ração. ‘Hoje tu come
a sobra de arroz com leite’.
Uma
barata raquítica sai do ralo da pia, associando-se ao prato do gato. Ele mete a
pata sobre ela. Aperta a presa que se finge de morta pra salvar a pele. Quando
ele afrouxa, a coitada foge veloz pra sua vidinha de esgoto.
Meu banho
é curto pra economia de consumo e contribuição com um planeta sustentável. Me
seco na sala. O banheiro é apertado demais para eu esfregar as costas com meus
braços compridos e cansados. Meu cabelo tá fraco e ralo. Sempre foi assim e a tendência
é piorar. Esquento leite no microondas, tomo com um sanduiche de pão e
mortadela. Uma banana pra arrematar o jantar! A TV de quatorze polegadas não
pega direito. Abro o notebook, minha mais cara e preciosa aquisição.
Em frente à tela, tenho o mundo ao meu alcance. E minha
vida limitada, finalmente se expande.
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